A Cosan decidiu adiar o IPO da Moove na Bolsa de Nova York depois que diversos fundos long-only internacionais recuaram da oferta por não querer aumentar sua exposição ao Brasil, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.
As reuniões com investidores na semana passada foram construtivas – o livro de ofertas foi para o final de semana mais de 2x coberto, mas dominado por hedge funds – e a companhia esperava precificar a transação no início da tarde de hoje.
Mas algo atípico aconteceu no meio do caminho: os comitês de investimento dos fundos long-only – que são necessários para criar uma base de acionistas de qualidade, permitindo que o papel negocie para cima – vetaram um aumento de sua exposição ao Brasil.
Dos cerca de 30 fundos inicialmente interessados, apenas 3 confirmaram suas ordens.
Durante o roadshow, alguns citaram a imprevisibilidade do câmbio do País – que tem o potencial de alterar os resultados da Moove.
Metade do top line e 66% do EBITDA da companhia ainda vem da América do Sul (particularmente do Brasil) – ainda que todo o crescimento esperado para os próximos anos venha de países desenvolvidos.
O fracasso do IPO vem num momento em que os próprios brasileiros reclamam crescentemente da insegurança jurídica no País e em meio a preocupações sobre a consistência do arcabouço fiscal do Governo Lula.
A notícia deve deprimir ainda mais os ânimos na Faria Lima, onde a Bolsa não consegue sair do lugar e o buyside sofre saques incessantes desde meados de 2021.
Para a Moove, o IPO não era uma questão de necessidade de capital. A companhia levantaria apenas US$ 100 milhões na tranche primária, e a maior parte dos recursos (US$ 300 milhões) viria da oferta secundária, dando saída parcial à CVC Capital Partners e a Cosan.
A faixa indicativa do IPO era de US$ 14,50 a US$ 17,50 por ação. No meio da faixa, isso daria um múltiplo de 8x o EBITDA da Moove estimado para 2025 — um desconto de 25% em relação a peers globais como a Fuchs e a Quaker Houghton.
“Poderíamos forçar a oferta para sair abaixo da faixa, mas não seria uma oferta com a qualidade que queremos,” disse uma fonte envolvida no processo, que diz que a empresa voltará ao mercado mais adiante.
A Moove queria estrear na Bolsa de Nova York com um market cap de R$ 10 bilhões, no meio da faixa indicativa. A Cosan tem 70% do capital; os 30% restantes são da CVC Capital Partners.
Os coordenadores globais foram o JP Morgan, Bank of America e Citi, seguidos de Itaú BBA, BTG Pactual e Santander. Goldman Sachs, Jefferies e Morgan Stanley também estavam no sindicato.