A Natura&Co perdeu quase 20% de seu valor de mercado em poucas horas, depois de um desempenho no terceiro trimestre que fez vários gestores jogarem a toalha num papel que tem sido a principal posição dos maiores fundos de ações da indústria.
“Brasil veio ruim, Avon veio ruim, e a margem veio ruim,” resumiu um gestor, dizendo que a Natura falhou na comunicação com o mercado. Outros disseram que a debacle de hoje seria também uma questão de “quebra de confiança.”
“Ainda estou tentando entender esse resultado. Não estava esperando isso,” disse um gestor que tem as ações. “A comunicação da empresa é falha. Sem apresentar resultado, vai ser difícil segurar essa cotação”, disse outro investidor que foi pego ‘comprado’.
A receita líquida da Natura foi de R$ 9,5 bilhões, uma queda de 4,5% em moeda constante na comparação anual. O EBITDA consolidado ajustado foi de R$ 819 milhões, derretendo 47%.
A margem EBITDA mergulhou 6,20 pontos percentuais para 8,6%, e o lucro líquido teve queda de 28,5% para R$ 273 milhões.
Para justificar o resultado horroroso, a empresa falou num cenário mais desafiador e citou o enfraquecimento do cenário macro no Brasil e a inflação de preços de matéria-prima.
Para os analistas do JP Morgan, a Natura mostrou um resultado operacional abaixo do esperado, queimou caixa por conta de um ciclo de investimento maior, e ainda adiou o guidance para a margem EBITDA, de 2023 para 2024, o que é “um sinal de que as pressões no resultado da empresa deverão perdurar por mais tempo.”
O fluxo de caixa fechou o trimestre com uma queima de R$ 673 milhões, que a empresa relacionou ainda aos impactos da pandemia, ao aumento do capital de giro com a alta nos estoques, e à retomada do capex.
O resultado foi afetado por receitas menores com a marca Natura no Brasil, que caíram 16%, junto com uma queda de 22% na produtividade das consultoras.
A receita líquida da Avon International caiu 14,3%.
Para outro gestor, “parece que a tese de longo prazo da Natura foi colocada em xeque, e agora o mercado tem dúvidas sobre qual é a margem estrutural da companhia e está perdendo a confiança no turnaround da Avon.”
“São muitos problemas ao mesmo tempo”, resumiu outro analista.
Nem o anúncio da Natura de uma recompra de até 7,5 milhões de ações (R$ 1,5 bilhão no fechamento de ontem) — e planos de listar a companhia em Nova York — foram capazes de reduzir o choque do mercado.
O BTG disse que a empresa é um investimento de longo prazo, e manteve a recomendação de compra. O copo meio cheio: a empresa reforçou a estrutura de capital no ano passado, está digitalizando as vendas e tem grande oportunidade de capturar sinergias com a Avon.
O Bradesco BBI disse que o EBITDA ficou 18% abaixo de sua estimava, e a receita, 6%. Para os analistas do banco, a empresa terá trabalho para convencer os investidores de que o novo guidance será alcançado.