Mesmo uma das companhias mais bem-sucedidas do mundo está sendo obrigada a refletir sobre sua cultura – e dizendo que perdeu dinamismo ao longo do caminho.

Na Amazon, o CEO Andy Jassy  está visivelmente incomodado, e quer acabar com “as pré-reuniões de pré-reuniões para reuniões” — além de obrigar que todos voltem a bater o ponto presencialmente cinco dias por semana. (Like in the old times.)

Numa carta aos executivos e colaboradores da Amazon, Jassy diz que “a solidez de nossa cultura não é um direito de nascença. Temos que trabalhar nisso o tempo todo.”

Ele questiona se a atual organização possui a agilidade necessária depois de adicionar muitos gerentes e camadas de decisão ao longo do tempo.

“Foram criados artefatos que eu gostaria de mudar – por exemplo, as pré-reuniões de pré-reuniões para reuniões decisórias, uma longa linha de gerentes que considera necessário fazer a revisão de um tópico antes que ele avance,” disse Jassy.

Para o executivo, os times precisam saber que podem andar mais rápido sem ficarem presos a “processos desnecessários, reuniões, mecanismos e camadas que criam excesso de gente e desperdiçam tempo valioso.”

Jezz Bezos

A Amazon terá uma “caixa postal da burocracia” para que os executivos e colaboradores possam relatar o que consideram “processos ou regras que considerem excessivas e desnecessárias.”

Mais: as áreas terão que reduzir o número de gerentes até que eles sejam de no máximo 15% da equipe até o primeiro tri do próximo ano.

Jassy, que está na Amazon desde 1997, foi promovido a CEO em meados de 2021, assumindo o posto historicamente ocupado por Jeff Bezos, o fundador da empresa.

Desde que assumiu a liderança  vem trabalhando para enxugar e reestruturar áreas. Segundo o Wall Street Journal, a companhia cortou 27.000 pessoas entre o final de 2022 e o início de 2023.

Na carta, o CEO afirmou que deseja ver a Amazon funcionando como se fosse “a maior startup do mundo.”

O comentário fez lembrar uma carta de Bezos a investidores em 2017, na qual ele afirmava que o sucesso da Amazon se devia ao fato de a empresa trabalhar sempre como se estivesse no seu primeiro dia – o modo day 1.

Bezos contou que foi questionado sobre como seria o day 2. Ele respondeu: “É a estase (estagnação). Seguida pela irrelevância. Seguida pelo excruciante e doloroso declínio. Seguido então pela morte. E por isso precisa ser sempre day 1.”

Segundo Bezos, bons processos ajudam a servir os clientes – mas, se não houver cuidado, “o processo vira a coisa.”

“Você para de ver os resultados e apenas se preocupa em fazer o processo corretamente,” comentou o fundador e chairman da Amazon. 

Com relação ao trabalho presencial, a empresa vai retomar o que vigorava antes da pandemia – e a presença nos campi e nos escritórios será obrigatória cinco dias por semana a partir de janeiro.

“Observamos que é mais fácil para as nossas equipes aprender, modelar, praticar e fortalecer nossa cultura,” escreveu Jassy na carta. “Colaborar, fazer brainstormings e criar fica mais simples e efetivo.”

Haverá exceções – mas a ideia é que sejam de fato exceções e todos voltem à rotina de trabalhar 100% presencialmente.

Desde maio do ano passado, a Amazon exige presença no escritório ao menos três vezes por semana.

Entre as techs, poucas obrigam os trabalhadores a cumprir a jornada integralmente de maneira presencial. No Google, os funcionários precisam ir a alguns dos escritórios ao menos três vezes por semana.

Já no setor financeiro a regra tem sido obrigar as pessoas em cargos executivos a cumprir as jornadas nos escritórios – até para que assim elas deem o exemplo para os funcionários mais jovens e ajudem a treinar os novatos.

Diversos funcionários da Amazon ficaram indignados com a volta ao trabalho 100% presencial, segundo o Business Insider.

“Por favor, percebam que as regras são (em muitos casos) bem mais restritas do que as que haviam antes da covid,” teria publicado uma pessoa no Slack da empresa. “Não se trata de voltar ao que era. É um retrocesso.”