A SP-Arte abre sua 21ª edição na quarta-feira, mas a enxurrada de vernissages, jantares e lançamentos editoriais já tomou conta de São Paulo na semana passada.

O preview do que será mostrado na feira circulou para os colecionadores para atiçar o interesse e iniciar as negociações. (Em geral, as obras mais cobiçadas são vendidas antes da abertura oficial.)

O Brazil Journal conversou com a diretora da feira, Tamara Perlman, e selecionou obras e stands que merecem atenção dentre as mais de 102 galerias presentes, que levarão mais de 5.000 obras de 1.000 artistas – além dos destaques da área dedicada ao design. 

Joias de Di Cavalcanti no Escritório Rafael Moraes 

Joalheiro e antiquário, Rafael Moraes trabalha desde 1995 com joias antigas. Expositor da SP-Arte há muitos anos, seu escritório ficou conhecido por ter a melhor seleção de joalheria afro-brasileira – as chamadas “joias de crioula” – e joias de artistas modernos e contemporâneos. Desta vez, Rafael traz um recorte histórico das joias e desenhos de Di Cavalcanti, morto em 1976.

Faceta pouco conhecida do artista modernista, as peças foram produzidas nos anos 60/70 em parceria com o então joalheiro mais famoso do país, Lucien Finkelstein. A maioria das peças ficaram com o próprio Lucien, que também guardou todos os papéis que Di fez, formando uma expressiva coleção de 500 desenhos.

As joias são compostas por fragmentos de faces e olhos expressivos, e ganharam nomes da mitologia grega como Medusa, Penélope e Helena, mas “a Grécia aqui ganha ares tropicais, fruto da paleta expressiva e das formas recurvadas,” explicou a curadora Pollyana Quintella no livro organizado por Rafael, que será distribuído gratuitamente na feira. “As deusas gregas se convertem em versões abrasileiradas, desenhadas em ouro, com boca de rubi e olhos de esmeralda, num bem-humorado contraste popular com materiais de luxo.” 

Megumi Yuasa e a cerâmica na Gomide & Co

A galeria Gomide & Co está apostando no universo da cerâmica. A galeria investiu em um projeto expográfico e num mobiliário desenvolvido especialmente para a feira.

Além de uma seleção de cerâmicas produzidas pelas culturas Nazca e Moche (a mais antiga, de 300 anos D.C), dos Andes, a galeria vai apresentar uma série inédita do artista Megumi Yuasa

Yuasa não era conhecido do grande público até pouquíssimo tempo, quando a Gomide organizou sua primeira individual em 26 anos, em agosto de 2024.

No começo deste ano, em parceria com a nova-iorquina Ortuzar Gallery, a galeria apresentou um show solo de Megumi na Frieze LA. Corria nos corredores que Gwyneth Paltrow e Tim Cook disputaram obras do nipo-brasileiro. 

Yuasa explica assim a sua obra: “Ao se formar, nosso planeta era uma bola de magma que esfriou e formou a pedra dura. Sobre a pedra veio a água e, dela, a vida. Enquanto isso, a rocha decomposta virou argila. Não fiquei espantado quando a Nasa declarou, algum tempo atrás, que somos feitos da mesma matéria das estrelas. Todo ceramista sabe isso.” 

Francis Alÿs na Galatea

 A Galatea costuma criar estandes diferentes, fugindo do cubo branco. Dessa vez, seu espaço na SP-Arte foi organizado como uma casa, separado por cômodos, com mobiliário de quarto e sala, objetos – e, claro, quadros nas paredes. 

O destaque deste ano é um díptico de um dos artistas mais celebrados pela crítica e pelo mercado mundial hoje: o belga Francis Alÿs, que usa performance, vídeo, fotografia e pintura para explorar tensões geopolíticas. 

A obra exposta faz parte da série “The Sign Painting Project”, uma das primeiras investigações de Alÿs em torno da autoria e da colaboração. 

O artista, radicado na Cidade do México há muitos anos, trabalhou nos anos 90 com pintores comerciais especializados em anúncios de rua e letreiros para reinterpretar suas pinturas.

Alÿs pintava telas pequenas, que foram ampliadas e reinterpretadas. A obra foi realizada pelo pintor de rua mexicano Juan Garcia. O projeto gerou mais de 120 obras, explorando as sutis variações entre original e cópia. 

Claudia Alarcón na Cecilia Brunson Projects

Um das poucas galerias internacionais presentes nesta edição, a Cecilia Brunson Projects (CBP) foi fundada em Londres em 2013, dedicada a artistas latino-americanos.

Na última década, apresentou ao público europeu artistas brasileiros como Willys de Castro e Judith Lauand, e artistas contemporâneas como o venezuelano Sheroanawe Hakihiiwe e a argentina Claudia Alarcón

Claudia – uma das artistas que chamou atenção do mundo na última Bienal – trabalha com tramas têxteis, retratando os ciclos da natureza com padrões geométricos.

Nascida em 1989 na comunidade Wichi – na região de Chaco Grande, entre Argentina, Bolívia e Paraguai – ela será destaque da próxima Bienal do Mercosul. Além do trabalho individual, a artista coordena o coletivo Silät, uma organização de 100 mulheres tecelãs de diferentes gerações que seguem a tradição centenária de tecer com fibras vegetais.  Com ajuda de um curador, o coletivo explora a arte dentro e fora de suas tradições. 

Last but never the least, a SP-Arte vai expor 80 galerias de design no térreo do prédio da Bienal. 

Livia Debbane e Camilo Oliveira assinam a curadoria do espaço intitulado “Inteligência Material”, com peças de 25 jovens designers brasileiros e sul-americanos. Lucas Recchia, o designer do momento que faz móveis de vidro e bronze, e a Aalvo Gallery são os representantes da novíssima geração do design brasileiro.