Foi épico enquanto durou, mas ficou no passado. Chegou ao fim o superciclo de commodities metálicas na China, diz o Financial Times.

Foram duas décadas de crescimento vertiginoso.

A gigantesca demanda para a construção de cidades e dos projetos de infraestrutura fez com que, entre 2000 e 2020, o consumo de aço na China fosse o dobro do total consumido nos EUA em todo o século 20.

De lá pra cá, a produção chinesa de aço cai seguidamente há quatro anos e deverá ter nova queda em 2025.

De acordo com o banco australiano Macquarie, o consumo de minério de ferro no país teve seu pico em 2023, e agora a tendência é de declínio.

Há sinais também de que o consumo chinês de petróleo entrará em retração mais cedo do que se imaginava.

A questão agora, dizem executivos e analistas da indústria de commodities metálicas, é se haverá um novo superciclo. A resposta, segundo o FT, é provavelmente ‘sim’ – mas deverá ser um ciclo completamente diferente, puxado pelos investimentos na transição energética e na inteligência artificial.

Na China, o processo de transição da zona rural para as cidades já ficou para trás. A demanda por novas casas  desabou, e ao contrário do passado recente, as iniciativas de estímulo econômico não são mais concentradas na expansão da infraestrutura.

“Esse motor se foi – e não acredito que voltará,” Steele Li, o vice-chairman da mineradora chinesa CMOC, disse ao FT. “A economia da China terá que encontrar um novo motor.”

Na indústria de commodities, a expectativa é de que o fim do superciclo chinês coincida com o início de um novo grande ciclo, dessa vez puxado sobretudo pelos projetos de energia limpa.

A construção de redes de transmissão, usinas solares e data centers exigirá um elevado consumo de cobre. Já metais como lítio, cobalto e níquel são essenciais para as baterias dos carros elétricos, entre outras aplicações.

“Estamos no meio de dois superciclos,” disse ao FT Peter Toth, um estrategista da mineradora americana Newmont que já trabalhou na BHP e Rio Tinto. “O novo superciclo será liderado pela eletrificação, transição verde e inteligência artificial.”

A oferta dos metais demandados nesse novo ciclo é mais pulverizada ao redor do globo – assim como a demanda, o que vem motivando tensões geopolíticas e disputas estratégicas pelo acesso ao fornecimento.

A BHP e a Rio Tinto, duas das maiores produtoras mundiais de minério de ferro, começaram a reposicionar seus negócios preparando-se para um boom do cobre.

Segundo a International Energy Agency, a demanda por cobre poderá crescer 50% até 2040, e neste mesmo período o consumo de lítio será multiplicado por sete.