BOSTON — “O que aconteceu com a FTX tem muito pouco a ver com cripto e muito mais a ver com fraude old school,” disse Paulo Passoni, o ex-diretor do Softbank para América Latina. “Em breve, isso vai ficar bastante evidente.”
A FTX pediu concordata na sexta-feira depois que o valor de seu token, o FTT, despencou, levando a uma corrida entre usuários para ver quem sacava mais rápido. Agora, três agências americanas — a SEC, a CFTC e o Departmento de Justiça — estão investigando a empresa de Sam Bankman-Fried.
Passoni disse que muitas empresas de cripto se classificam como exchanges, mas na prática funcionam como bancos.
“Uma exchange não deveria assumir qualquer tipo de risco de má gestão,” Passoni disse ontem na conferência MBA Brasil 2022, na Harvard Business School. “Mas algumas dessas ‘supostas’ exchanges na verdade atuam como bancos. Isso é inaceitável.”
“Se as empresas de cripto estão funcionando como bancos, precisam ser reguladas como bancos. Assim teremos um ambiente melhor para todos.”
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“Na FTX houve fraude, o que poderia ter ocorrido em qualquer outra indústria, não se trata de algo específico de cripto,” concordou Antoine Colaço, um executivo que passou nove anos no Google e hoje é sócio da Valor Capital.
Sobre o futuro das criptomoedas e outros ativos cripto, Colaço disse que eles não deveriam ser tão correlacionados com os ativos de risco e as commodities, como ocorre atualmente.
“A questão é saber quando essa correlação chegará ao fim,” afirmou. “Não está claro quando, mas acredito que em algum momento isso irá acontecer.”
A Valor mantém investimentos em cripto mas privilegia empresas dedicadas a desenvolver a infraestrutura de serviços e transações – que podem contribuir para reduzir ineficiências na economia.
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A quebra da FTX “afeta o cripto à beça no curto prazo; vai doer,” disse Marcelo Sampaio, o cofundador e CEO da gestora Hashdex.
O conselho de Marcelo para quem quer investir em critpo e mitigar o risco é “não tentar escolher vencedores, mas comprar o mercado,” ou seja, ter uma carteira diversificada ou adquirir ETFs.
Para ele, o futuro do cripto segue inabalado. “Cripto é a nova internet. É a internet do valor.”
Do ponto de vista de investimento, os ativos cripto ainda oscilam muito e mantêm uma correlação com os ativos de risco. Mas ele também acredita que em algum momento essa correlação será rompida. “É um setor muito novo ainda.”
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André Leme, da Bain & Company, disse que o cripto é a nova fronteira para as fintechs.
“Cripto não diz respeito apenas a moedas,” afirmou. “Devem ser as novas securities, vão começar a atacar os produtos tradicionais.”
O executivo, líder da área de serviços financeiros para a América do Sul na consultoria, notou que está se formando um novo ecossistema de custódia, onde poderá haver várias inovações.
O repórter viajou a convite da conferência MBA Brasil 2022.