Flamengo e Palmeiras se reencontram na final da Libertadores no próximo sábado. Pela quinta vez em seis anos, o título ficará entre clubes do Brasil.

Mais do que rivais, os dois se tornaram símbolos de uma nova era no futebol nacional: profissionalizada, estratégica e cada vez mais internacional.

O futebol brasileiro vive uma transformação silenciosa – e positiva.

Os clubes estão repensando o que vendem, como se governam e como se conectam com a torcida. O gramado segue como palco, mas os bastidores se tornaram parte essencial da disputa.

Flamengo e Palmeiras ilustram esse movimento. Adotaram modelos de gestão modernos, aumentaram receitas com marketing e comunicação e transformaram desempenho esportivo em ativo de reputação.

A Confederação Brasileira de Futebol anunciou o modelo de fair play financeiro e criou um grupo com 28 clubes e oito federações para discutir a sustentabilidade do futebol. Neste mês, apresentou o regulamento preliminar, com fiscalização em 2026 e implementação total até 2029, sinalizando que a nova lógica já alcança a gestão fora dos gramados.

Os dois finalistas da Libertadores provam que desempenho e gestão caminham juntos: sustentabilidade esportiva e financeira não se separam mais. O futebol já fala a língua do entretenimento global.

A Brand Finance estima o valor de marca do Flamengo em US$ 121,2 milhões em 2025, uma alta de 21% em relação ao ano anterior. No topo global, o Real Madrid aparece avaliado em cerca de US$ 2,1 bilhões. Esses números mostram que futebol é paixão, produto, estratégia e reputação. A disputa entre clubes extrapola o campo e se tornou também uma batalha por narrativas, protagonismo e conexão com a torcida.

A comunicação é o elo dessa nova era.

Não basta anunciar reforços ou campanhas. É preciso construir reputação. Quando um clube explica escolhas, lida com crises com transparência e cria narrativas com propósito, fortalece o ativo mais valioso que tem: a confiança da torcida.

Um exemplo desse engajamento são os fan tokens, moedas digitais que permitem ao torcedor votar em decisões simbólicas do clube.

Um estudo de 2024 com participação de pesquisadores da Católica Lisbon analisou mais de 3,5 mil votações em plataformas como a Socios.com, envolvendo clubes como PSG, Juventus e Manchester City. Em média, cerca de 4 mil torcedores participaram de cada votação, aproximadamente metade dos detentores dos tokens.

O dado mostra que, quando convidado a participar de forma concreta, o torcedor responde. A paixão se traduz em ação.

No Brasil, o Flamengo lidera em engajamento digital e valor de marca. O Grêmio mantém posição entre os mais valiosos, mesmo fora do eixo Rio-São Paulo. O Vasco reposiciona o torcedor como parte ativa da comunicação digital.

Esses casos reforçam que reputação, governança e comunicação caminham juntas.

A rivalidade recente entre Flamengo e Palmeiras mostra de forma clara essa profissionalização: os times disputam títulos, mas também modelos de gestão e engajamento, influenciando o futebol brasileiro como um todo.

A entrada de investidores e holdings trouxe novas exigências. Capital externo pede performance e também pertencimento. Investimento sem narrativa não engaja; pertencimento sem transparência não fideliza. No Brasil, esse modelo ainda é recente e está em curva de aprendizado.

Na teoria do marketing, Philip Kotler definiu os quatro Ps: produto, preço, praça e promoção. Pesquisadores posteriores sugeriram um quinto P, como People ou Purpose, para lidar com engajamento e experiência. No futebol, esse quinto P ganha nome próprio: paixão.

A paixão transforma o produto em experiência. Reconfigura o valor percebido do ingresso. Amplia o alcance das campanhas. Redefine a relação entre clube e torcida. Não é romantismo. É gestão de um ativo simbólico.

Quando o clube trata a paixão como capital, a comunicação deixa de ser tática e se torna estratégica. Acompanha todo o ciclo de relacionamento com o torcedor, do anúncio de reforços à gestão de crises. É nesse equilíbrio entre emoção e método que nasce a reputação sustentável.

O futebol brasileiro tem a chance de unir razão e coração. Profissionalizar sem perder a essência. Crescer sem se distanciar da arquibancada. A paixão mantém o jogo vivo e o negócio de pé. Como na final desta Libertadores entre Flamengo e Palmeiras, quem souber tratar a paixão como capital terá um ativo que resiste a qualquer resultado dentro das quatro linhas e garante protagonismo dentro e fora de campo.