A Enjoei acaba de anunciar dois novos nomes para seu conselho: Renato Rique, o fundador da companhia de shoppings Aliansce Sonae, e Gregory Reider, sócio da Volpe Capital e conselheiro de companhias como Petz e Sequoia.
Os executivos vão substituir Eric Acher — o fundador da Monashees que estava no board desde que a gestora de VC investiu na Enjoei, em 2013 — e Aline de Lucca, a diretora de RH do Google Itália que estava no conselho desde o IPO.
As mudanças no board — as primeiras desde que a Enjoei abriu seu capital há um ano — vêm num momento em que a ação do marketplace de produtos usados está nas mínimas históricas.
O papel caiu 60% nos últimos doze meses e negocia a menos de um terço do valor do IPO — dando à empresa um valor de mercado de R$ 660 milhões.
A queda veio em meio à reprecificação generalizada das empresas de tecnologia, que sofrem mais com a alta dos juros, mas também com a percepção de alguns investidores de que as métricas da Enjoei começaram a piorar.
No terceiro tri, a empresa viu o crescimento do seu GMV desacelerar e as margens contraírem, impactadas pela diminuição do take rate cobrado dos lojistas que vendem na plataforma.
A empresa também teve que reduzir seus investimentos em marketing por conta do aumento do custo de aquisição de clientes, o que impactou a adição de novos compradores — que desacelerou 9% ano contra ano.
Mas Tiê Lima, o CEO e fundador da Enjoei, diz que as coisas não são tão simples assim e que a empresa adotou a estratégia certa, dado o momento do mercado.
Segundo ele, como estava mais caro adquirir novos usuários, a Enjoei focou este ano em aumentar a recorrência da base atual, para continuar gerando liquidez para os vendedores.
“O que promove recorrência é ter mais sellers e mais produtos na plataforma,” ele disse ao Brazil Journal.
Para atrair os novos sellers, a Enjoei teve que abrir mão de margem, já que um novo vendedor demanda incentivos para criar recorrência na plataforma.
Agora, Tiê diz que a empresa já vê uma normalização no CAC, e enxerga a possibilidade de capturar uma margem maior no ano que vem. “Vamos ter um grupo mais recorrente de vendedores, que tipicamente tem mais disposição para pagar um take rate maior.”
Sobre a queda da ação da empresa — que está entre as maiores baixas da Bolsa no último ano — o fundador cita o contexto macro desfavorável, mas também diz que há uma falta de entendimento do modelo de negócios da Enjoei.
Segundo ele, as pessoas às vezes fazem a leitura de que a Enjoei “diminuiu a margem para crescer GMV, como se fosse exatamente por isso…”
“Diminuímos para aumentar a base de usuários recorrentes, o que acaba aumentando o GMV. Mas quando a pessoa faz a leitura de que diminuímos a margem para aumentar o GMV, tem a preocupação natural: se você resolver aumentar a margem, vai diminuir o GMV?”
“É uma visão que eu acho justa mas, nos próximos quarters, as pessoas vão ver em dados concretos como essa dinâmica acontece,” disse ele. “Do nosso lado, o que entendemos é que estamos aumentando a nossa base de sellers com a diminuição da margem para depois aumentar o nosso GMV com uma margem maior.”
Ana Lu McLaren, a outra fundadora e presidente do board, diz que as mudanças no conselho visam fortalecer a governança da empresa e contribuir para a expansão do negócio — que passa pela entrada em outros canais de venda, como o varejo físico, pela adição de categorias e pelo fortalecimento da relação com as marcas.
Segundo ela, não há planos de ir para o varejo físico no curto prazo, “mas é algo que sempre olhamos e que faz sentido dentro de uma estratégia omnichannel.”
Como conselheiro da Sequoia, Gregory também deve ajudar no desenvolvimento da logística da Enjoei, uma das grandes apostas dos fundadores.
Nos últimos meses, a Enjoei tem investido na migração de suas entregas dos Correios para a Jadlog, que já representou cerca de 30% das entregas no terceiro tri. Mais recentemente, a empresa também incluiu a Kangu na plataforma.
“Nosso objetivo é aumentar a capilaridade, reduzir os custos das entregas e melhorar o nível de serviço,” disse Ana Lu.