A operadora de celular do SoftBank acaba de conquistar dois títulos: foi o segundo maior IPO do mundo, atrás apenas do Alibaba — e a segunda pior estreia da história da Bolsa de Tóquio.
Depois de levantar mais de US$ 23 bilhões numa oferta concorrida — em que teve que vender um lote adicional de ações para dar conta da demanda — o Softbank viu os papéis da operadora despencarem quase 15% no primeiro dia de negociação.
O IPO só saiu graças à demanda do investidor pessoa física — o ‘Mr. Watanabe’, a versão japonesa do ‘José da Silva’ — que a esta altura já deve estar arrependido.
A empresa destinou quase 80% das ações para os investidores locais de varejo e apostou numa forte campanha de marketing — até com propaganda na TV — para estimular o interesse pela oferta.
“Os investidores institucionais ficaram longe dessa oferta porque acharam o preço muito esticado”, uma analista do Bernstein disse ao The Wall Street Journal.
A empresa saiu a um múltiplo EV/EBITDA de 8,5x, bem acima dos seus pares. A NTT Docomo e a KDDI, as duas maiores operadoras do Japão, negociam por volta de 5,2x.
O grande atrativo foi o dividend yield. Num país onde as taxas de juros dos títulos públicos são próximas de zero, o yield de mais 5% fez brilhar os olhos puxados. A companhia prometeu um payout de 85% de seu lucro líquido, enquanto as rivais do setor pagam entre 40% e 50%.
Investidores institucionais apontam, no entanto, que o início de uma guerra de preços no setor de telecom japonês pode secar o leite da ‘cash cow’. Outro problema: a forte dependência do SoftBank da chinesa Huawei, a fabricante de hardware que os EUA suspeitam de espionagem.
Fundado nos anos 1980 por Masayoshi Son, o Softbank é um conglomerado de empresas — a maior delas, a de telefonia. Em meados do ano passado, o Softbank levantou o maior fundo de private equity do mundo, o Vision Fund, de US$ 100 bilhões, e investiu em unicórnios como Uber, WeWork e Alibaba.
O IPO da operadora faz parte da estratégia de Masayoshi de tirar o pé de negócios de baixo crescimento e entrar de cabeça em ativos de maior potencial de retorno. Em outras palavras: empresas de tech e startups.
Além do IPO que estreou hoje, o grupo está no processo de venda do controle da Sprint para a T-Mobile. Os recursos de ambas as transações serão usados em novos investimentos e para reduzir a dívida líquida do conglomerado, que beira os US$ 160 bilhões.
O IPO teve um timing complicado.
O Softbank vem sofrendo fortes críticas por suas relações estreitas com o governo da Arábia Saudita — Masayoshi é amigo próximo do príncipe Mohammed bin Salman e quase metade dos US$ 100 bilhões levantados pelo Vision Fund vieram do país árabe.
O assassinato do jornalista Jamal Khashoggi e o papel do governo saudita na guerra do Iêmen geraram uma campanha no mundo do venture capital para que as startups não aceitem dinheiro do Vision Fund.
Para piorar, no início do mês um apagão de rede afetou mais de 30 milhões de clientes da operadora do SoftBank, deixando os japoneses por mais de quatro horas sem acesso aos serviços da empresa.