Em seu primeiro resultado após a fusão com o Grupo Soma, a Arezzo&Co reportou um primeiro trimestre com vendas fortes em suas lojas próprias e no ecommerce, mas com uma retração no chamado sell-in (as vendas para multimarcas).
A dinâmica veio em linha com os dois trimestres anteriores, quando as vendas para as multimarcas também retraíram.
Nesse tri, o sell-in caiu 4,2%, enquanto as vendas das lojas próprias e do ecommerce subiram 14% e 19%, respectivamente.
O CFO Rafael Sachete disse ao Brazil Journal que a queda no B2B tem a ver com algumas “questões mais pontuais de performance.”
“Desde o segundo semestre do ano passado, temos feito uma revisão na base de clientes da Reserva, o que tem impactado os números,” disse ele. “Queremos manter a Reserva uma marca mais premium, então estamos tirando algumas multimarcas que não tem esse perfil e focando o crescimento nas que tem.”
Segundo ele, a expectativa é que a partir do segundo trimestre já haja uma normalização neste canal, com as vendas voltando a crescer.
Já no sell-out (as lojas próprias, franquias e ecommerce) as vendas vieram fortes, disse o CFO, com destaque para a marca Arezzo, que é a maior em volume de vendas e cresceu 8,2% no primeiro tri.
“Esse crescimento na principal marca do grupo e numa marca que já é muito madura reforça nossa capacidade de manter as marcas fortes, vivas e rejuvenescidas.”
No consolidado, a receita líquida da Arezzo&Co subiu 4,6% para R$ 1,072 bilhão, em linha com o consenso de R$ 1,075 bi.
Já o EBITDA veio em R$ 173 milhões, em comparação aos R$ 170 milhões esperados pelo sellside.
A margem EBITDA subiu 0,2 ponto percentual, em grande parte por uma melhora da margem bruta, que subiu 0,8 ponto, com a companhia conseguindo vender com menos descontos e pelo fato do mix das vendas ter sido mais concentrado nas lojas próprias e ecommerce, que têm uma margem maior.
O grande ‘beat’ do trimestre, no entanto, foi no lucro líquido, que veio em R$ 78 milhões, 43% acima do consenso Bloomberg, de R$ 55,4 milhões.
Essa diferença é explicada basicamente por uma questão tributária. Os analistas esperavam que a Arezzo&Co sofresse um impacto grande no seu lucro por conta de uma MP que foi instituída no final do ano passado, e que trata do pagamento de IR e contribuição social em cima de benefícios fiscais.
“Os analistas estavam esperando que todas as companhias, de forma uniforme, tivessem que pagar esse IR, mas o entendimento dos nossos advogados foi de que não temos que pagar porque já temos um processo com trânsito em julgado relacionado a esse tema.”
Além disso, o CFO disse que a companhia conseguiu uma maior eficiência de impostos, o que também não estava no modelo do sellside.
Segundo ele, cerca de 80% da diferença do resultado para o consenso veio do entendimento distinto a respeito da MP, e os 20% restantes da eficiência de impostos.
O resultado vem pouco mais de um mês depois do CADE aprovar a fusão da Arezzo&Co com o Grupo Soma sem nenhuma restrição, o que deve acelerar o closing da operação.
A estimativa inicial era de que o closing acontecesse no início de 2025. Agora, as duas companhias já projetam que ele deve acontecer “nos próximos meses.”
As duas empresas já começaram a trabalhar em algumas sinergias. A primeira delas é a criação de uma linha de calçados dentro da Hering e da Farm.
Sachete disse que a Hering Shoes e a Farm Shoes vão ser apresentadas no Pulsar, o evento que a empresa organiza para seus clientes multimarcas e que acontece semana que vem na Bienal de São Paulo.
“Vamos ter estandes de 100 metros quadrados cada para a Farm Shoes e a Hering Shoes, e já vamos lançar 191 SKUs para a Farm e 153 para a Hering,” disse o CFO. “Já vai ser uma amostra das oportunidades que temos.”
Outra sinergia que já está avançando é a de ganhos tributários. Sachete disse que a companhia já tem feito avaliações de como melhorar os ganhos com JCP e de como usar os prejuízos fiscais de algumas empresas do grupo e o ágio de R$ 1,3 bi da compra da Hering para reduzir seus impostos.
“Também já temos consultorias contratadas para a estruturação da nova empresa, com a definição do modelo de operação, da gestão do negócio e a identificação das sinergias e criação dos KPIs para medir elas.”
A Arezzo&Co reportou seu EBITDA e lucro com dois ajustes de itens não-recorrentes: a amortização de mais-valia do estoque da aquisição da marca Vicenza, que somou R$ 3,9 milhões; e as despesas relacionadas ao M&A, com advogados, bancos e consultorias, que somaram R$ 4,3 milhões.
Sem esses ajustes, o EBITDA teria ficado em R$ 164 milhões e o lucro em R$ 71,5 milhões.