Nos anos 60, Luiz Buarque de Hollanda desceu de um ônibus na Rua Barata Ribeiro, entrou na galeria Bonino e comprou uma obra de uma artista em começo de carreira, uma tal Lygia Clark.

Eram os primórdios de uma das maiores e mais diversas coleções de arte do Rio de Janeiro.

Agora, a exposição Um Olhar Afetivo para a Arte Brasileira: Luiz Buarque de Hollanda, que acaba de abrir na Flexa Galeria, no Leblon, homenageia o advogado que foi figura central no colecionismo brasileiro.

Antes da arte se tornar uma classe de ativos, uma indústria bilionária e uma expressão de poder financeiro, o colecionismo era apenas uma paixão – ou compulsão.  

Ao contrário do que acontece hoje, nomes como Hollanda e seu amigo Sergio Fadel, outro advogado e colecionador prominente, não compravam quadros esperando a valorização, e acabaram construindo algumas das mais relevantes coleções do País.

Mais importante ainda, colecionadores como Hollanda foram os primeiros a chancelar uma nova safra de artistas, como Cildo Meireles, Waltercio Caldas, Carlos Vergara, Antonio Dias, Rubens Gerchman, Hélio Oiticica e Lygia Clark.

Hollanda vendia os artistas modernos – o cânone estabelecido – para investir na vanguarda.

Naquele tempo pré-Faria Lima, não era preciso ser super líquido para se montar uma coleção; os colecionadores eram advogados, médicos e arquitetos.

Todos — no eixo Rio-SP — compravam quadros e móveis (Tenreiro, Sérgio Rodrigues, Zalszupin) sem imaginar que estavam conferindo autoridade aos que mais tarde se tornariam os maiores nomes da arte nacional.

Com curadoria de Felipe Scovino e expografia de Daniela Thomas, a exposição na Flexa reúne cerca de 150 obras que pertenceram a Buarque de Hollanda ou ainda pertencem à família – além de documentos históricos como cartazes, críticas e notícias da época.

Além de destacar o papel de Buarque de Hollanda no incentivo à arte, a exposição também reflete seu olhar afetivo e acolhedor ao colecionar e expor suas obras. A montagem, segundo a expografia de Thomas, evoca a densidade e a riqueza das coleções do passado, ocupando o espaço de maneira criativa e imersiva.

A dedicação de Buarque de Hollanda à arte não era apenas um esforço de colecionismo; ele via as obras como extensões de sua sensibilidade e inteligência, criando conexões afetivas profundas com os artistas e suas produções.

Quando desceu do ônibus em Copacabana, Buarque de Hollanda tinha visto pela janela uma pintura abstrata num pequeno antiquário.  Era Composição, uma das primeiras obras de Lygia Clark.  O advogado comprou a obra e começou sua coleção – mas também fez amizade com Lygia, ajudando na pesquisa e organização do catálogo da exposição que percorreu vários países na década de 1990. Sua abordagem era tanto estética quanto emocional.

Entre 1973 e 1978, Buarque de Hollanda foi sócio de uma galeria que levou seu nome, ao lado de Paulo Bittencourt, e que se tornou um marco por promover a interdisciplinaridade e por criar um ambiente acolhedor para os artistas.

Em 1992, internado em um hospital, Buarque de Hollanda fugiu para participar de um leilão no Copacabana Palace que oferecia obras dos artistas mais importantes do século XIX – muitas das quais pertenceram a Dom Pedro II.  Mais de 1.000 pessoas participaram do leilão, que marcou época.

Buarque de Hollanda deu lances em metade das obras, e levou um Castagneto.

É dessas pequenas loucuras que nascem as grandes coleções.

Marta Fadel e Ronaldo Cezar Coelho são colecionadores.

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