BOSTON – Warren Buffett se despediu do cargo de CEO da Berkshire Hathaway da mesma forma como conduziu sua trajetória espetacular: quietly and wisely.

Em sua última carta anual do Dia de Ação de Graças como CEO da empresa, publicada ontem, Buffett fez uma série de relatos pessoais, compartilhou lições que aprendeu ao longo de seus 95 anos, falou dos filhos – que têm 72, 70 e 67 anos – lembrou do valor da amizade e dos erros cometidos, e disse que a grandeza não está em ter bilhões.

11003 bb3ce615 84bd d00f 2f80 00bd85adf5d6

Abaixo, os melhores trechos da carta.

O que é a grandeza?

“A grandeza não vem pelo acúmulo de grandes quantias de dinheiro, de muita fama ou poder político. Quando você ajuda alguém, de milhares de maneiras possíveis, você ajuda o mundo. A gentileza não custa nada, mas também não tem preço. Seja você religioso ou não, é difícil superar a Regra de Ouro como guia de comportamento”.

A solidez da Berkshire 

“A Berkshire corre menos risco de um desastre devastador do que qualquer negócio que eu conheça. A Berkshire tem uma gestão e o conselho de acionistas mais conscientes do que quase qualquer empresa com a qual estou familiarizado (e já vi muitas). Finalmente, a Berkshire sempre será gerida de forma a tornar sua existência um ativo para os Estados Unidos, e evitará atividades que possam levar à sua ruína. Com o tempo, nossos managers devem se tornar bastante ricos – eles têm responsabilidades importantes – mas eles não têm o desejo de riqueza dinástica ou do tipo “olhe para mim”.

O preço de nossas ações se moverá caprichosamente, ocasionalmente caindo 50% ou mais, como aconteceu três vezes em 60 anos sob a gestão atual. Não se desespere: a América voltará, e as ações da Berkshire também.”

Não se culpe pelos erros do passado

“Fico feliz em dizer que me sinto melhor sobre a segunda metade da minha vida do que a primeira. Meu conselho: Não se torture por erros passados – aprenda pelo menos um pouco com eles e siga em frente. Nunca é tarde para melhorar. Escolha os heróis certos e os copie. Você pode começar com Tom Murphy; ele foi o melhor.

[…]

“Decida o que você gostaria que seu obituário dissesse, e viva uma vida para merecê-lo […]. Escrevo isso como alguém que foi descuidado inúmeras vezes e cometeu muitos erros, mas também teve muita sorte em aprender com alguns amigos maravilhosos como se comportar melhor (ainda longe da perfeição, no entanto). Tenha em mente que a faxineira é um ser humano tanto quanto o chairman da empresa.”

Confiança nos filhos

“Todos os meus três filhos agora têm a maturidade, inteligência, energia e instintos para distribuir uma grande fortuna. Eles também terão a vantagem de estar vivos quando eu já tiver partido há muito tempo e, se necessário, poderão adotar políticas tanto antecipatórias quanto reativas às políticas fiscais federais ou outros desenvolvimentos que afetem a filantropia. Eles podem muito bem precisar se adaptar a um mundo significativamente diferente ao seu redor. Governar do túmulo não tem um bom histórico, e nunca tive vontade de fazê-lo.”

[…]

“Assegurei aos meus filhos que eles não precisam realizar milagres nem temer fracassos ou decepções. Eles são inevitáveis, e eu cometi minha parte. Eles simplesmente precisam melhorar um pouco o que geralmente é alcançado pelas atividades governamentais e/ou filantropia privada, reconhecendo que esses outros métodos de redistribuição de riqueza também têm deficiências.”

Adeus até para os idiotas (e a crença nos EUA)

“Desejo a todos que lerem isso um Dia de Ação de Graças muito feliz. Sim, até mesmo aos idiotas; nunca é tarde para mudar. Lembre-se de agradecer à América por maximizar suas oportunidades. Mas ela é – inevitavelmente – caprichosa e às vezes venal na distribuição de suas recompensas. Escolha seus heróis com muito cuidado e passe a imitá-los. Você nunca será perfeito, mas sempre pode ser melhor.”