Mudanças no comportamento do consumidor e incertezas macro têm colocado em evidência o inchaço dos portfólios de várias empresas de bens de consumo — levando cada vez mais CEOs a tentar se desfazer de marcas e segmentos menos estratégicos para retomar o caminho do crescimento.

Gigantes como a Procter & Gamble, Unilever e Nestlé encabeçam a lista de empresas que buscam alternativas para emagrecer seus portfólios neste momento.

“Essa dinâmica está ocorrendo devido a uma série de fatores, como sinergias fracassadas de fusões anteriores; mudanças nas preferências do consumidor, que tem optado por opções mais saudáveis, frescas e diversificadas; e a pressão de investidores, que têm favorecido empresas com narrativas de crescimento claras e focadas,” Alexander Grunwald, o co-head de consumer da Houlihan Lokey, disse ao Brazil Journal.

Além disso, uma venda ou cisão permite que cada uma das partes busque estratégias personalizadas, disse o executivo, com efeitos positivos em termos de eficiência operacional, inovação e apelo aos investidores, ao mesmo tempo em que ganham agilidade para reagir mais rapidamente às tendências do mercado.

A vontade de virar a página é tão grande que a Reckitt Benckiser — a dona das pastilhas para a garganta Strepsils — decidiu ignorar a volatilidade causada pela política tarifária do Governo Trump e aceitou uma oferta abaixo das expectativas do mercado para vender seu negócio de cuidados domésticos para a Advent no mês passado.

O enterprise value da divisão – que inclui marcas como a Air Wick e Calgon – ficou em £ 3,6 bilhões, £ 1 bilhão abaixo do que os analistas da Jefferies esperavam.

Os resultados e a estrutura do negócio foram “decepcionantes,” mas o acordo “deve reforçar a credibilidade da administração, que em grande parte dependia da execução bem-sucedida deste negócio,” a RBC Capital Markets disse ao Financial Times.

Resultado: a ação da empresa sobe 10% em Londres desde o anúncio. A Reckitt vale £ 38 bilhões na Bolsa.

Na Kenvue — o spinoff da Johnson & Johnson que produz o Tylenol — investidores ativistas como a Starboard Value, TOMS Capital e Third Point exigiram uma simplificação do portfólio e conseguiram derrubar o CEO Thibaut Mongon no mês passado. 

Mongon havia afirmado em junho que os consumidores continuam reduzindo gastos e os varejistas, estoques, em meio a pressões tarifárias.

O chairman, Larry Merlo, disse que há uma revisão estratégica em andamento na empresa e que diversas alternativas estão sendo consideradas.

O papel da Kenvue opera estável desde o anúncio, e a empresa vale US$ 41,5 bilhões na Bolsa.

A Nestlé, que já queria fazer um spinoff da sua divisão de águas, anunciou há alguns dias que também estuda vender algumas de suas marcas de vitaminas e suplementos, que registraram resultados abaixo do esperado no segundo tri.

“Adquirimos os ativos que estão sob revisão estratégica para ganhar escala, e acreditávamos na época que isso era fundamental para fortalecer nossa liderança. Agora, com o tempo, percebemos que o crescimento e a oportunidade de criação de valor estão mais restritos a segmentos premium,” Laurent Freixe, o CEO da Nestlé, disse na call com investidores. A ação recua 3% desde o anúncio.

Outra gigante estudando possíveis reduções no portfólio é a P&G, sem especificar quais segmentos podem ser desinvestidos.

A empresa também não descarta aquisições para a divisão de saúde, a exemplo do que foi a compra da Merck em 2018.

Já a Unilever segue trabalhando para concluir até o fim do ano a cisão de £ 15 bilhões de seu negócio de sorvetes, que passará a se chamar Magnum Ice Cream.

Em tempos de calor extremo no Hemisfério Norte, os sorvetes da Unilever até tiveram performance acima do esperado no segundo tri, mas vêm perdendo share há anos e dão dor de cabeça ao management por conta das visões abertamente progressistas da subsidiária Ben & Jerry’s.

O mercado monitora ainda uma possível cisão da Kraft Heinz em uma empresa de molhos e outra de comidas embaladas — um movimento que a empresa não confirma.

Um eventual spinoff “permitiria que a Heinz investisse em expansão internacional e inovação de produtos; e que a Kraft se concentrasse no controle de custos e se posicionasse para uma aquisição,” disse um analista do setor. 

Para ele, a Post Holdings — conhecida por comprar marcas tradicionais e otimizar suas operações — e a Ferrero poderiam se interessar pelos negócios Kraft.

A ação da Kraft Heinz está de lado desde que o Wall Street Journal reportou a possível cisão há quase um mês. A empresa vale US$ 32 bilhões na Bolsa.