Ontem de manhã, a ação do Facebook negociava na sua máxima histórica, acima de US$ 218, e subia 23% desde o começo do ano.
 
Horas mais tarde, as carinhas de ‘like’ se tornaram ‘wow’ e em seguida ‘angry’ — e a companhia perdeu um quinto de seu valor de mercado.
Assim que Nova York fechou, o Facebook anunciou os resultados do segundo trimestre: tanto a receita quanto o número de usuários ativos vieram abaixo do esperado.
 
O faturamento no trimestre foi de US$ 13,2 billhões, alta de 42%, mas o mercado esperava US$ 13,3 bilhões. (Foi a primeira vez que o Facebook não atingiu as expectativas do mercado desde 2015.)  Já o número de usuários diários ativos foi de 1,47 bilhão, mas o consenso da Bloomberg era de 1,48 billhão.
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Até aí, as decepções eram na margem, e o dano, controlável. A ação caiu 8% no pregão estendido, mas o pior ainda estava por vir.
 
Uma hora depois, o CEO Mark Zuckerberg abriu a teleconferência com analistas dizendo que 2,5 bilhões de humanos — um terço da população do planeta — usam pelo menos um produto do Facebook todo mês.  (Além de sua plataforma principal, a empresa também é dona do Whatsapp e do Instagram.)  
 
O mercado bocejou, mas o que veio a seguir — as projeções do CFO David Wehner — deixou os investidores em pânico. 
 
Segundo ele, a taxa de crescimento do Facebook — que foi de 42% no último trimestre — vai diminuir nos próximos anos, e sua margem operacional (hoje em 44%) vai desabar.
 
“Olhando para além de 2018, estimamos que o crescimento total das nossas despesas excederá o crescimento da receita em 2019”, disse. “Nos próximos anos, achamos que nossas margens operacionais tenderão a ficar por volta dos 35%.” 
 
Para Wehner, a margem operacional deve ficar abaixo do desejado “por vários anos:  mais do que dois, menos do que ‘muitos’.” 

A ação, que já estava em queda de 8%, mergulhou em minutos: -15%, -18%, -24%. 
 
Na minima, a empresa perdeu US$ 151 bilhões em valor de mercado — mais do que todo o valor de mercado da IBM (US$ 134 bilhões), segundo o Business Insider.
 
A Bloomberg calculou que a queda representa a maior perda de valor de uma companhia americana em um dia em toda a história (a conta inclui apenas empresas que valiam pelo menos US$ 150 bilhões na Bolsa ao longo da última década).
 
Wehner disse que três fatores estão puxando o crescimento de receita para baixo.
 
Primeiro, o efeito do dólar mais forte, que deprime as receitas internacionais do Facebook quando elas são convertidas para a moeda americana.
 
Segundo, uma maior ênfase no produto Stories — aqueles pacotes de posts e fotos que o usuário compartilha e que geralmente desaparecem após 24 horas. O Stories não é tão rentável para o Facebook quanto outros recursos do site.
 
E, finalmente, o maior foco em privacidade e segurança — resultado dos escândalos recentes — estão aumentando os custos da companhia e ainda podem pressionar a receita de publicidade.  O Facebook tem hoje 30.275 funcionários, um aumento de 47% de um ano para cá. As contratações ajudam a combater fake news e outros tipos de manipulação da plataforma.
 
E os investimentos continuam: Zuckerberg disse que aumentará o capex em conteúdo de vídeo, inteligência artificial e realidade virtual — além de comprar mais imóveis para acomodar o aumento de pessoal.
 
Um analista da Jefferies se disse espantado com a escala de desaceleração. “Parece que a magnitude está além de qualquer coisa que já vimos”, disse ao Business Insider.  Outro decretou que “a plataforma principal do Facebook está em declínio.”
 
O pregão desta quinta vai mostrar o quanto da queda de ontem foi exuberância irracional ou uma conta bem feita pelos investidores.  Mas, desde já, há uma lição aqui.  
 
Há pouco mais de três meses, com o escândalo da Cambridge Analytica, Zuck teve que depor no Congresso e o Facebook parecia em córner. Toda sua lógica existencial — baseada no aforismo “quando o produto é de graça, o produto é você” — estava sendo (corretamente) questionada. Depois de uma queda inicial, no entanto, a ação se recuperou e bateu novos recordes de preço.
 
O mercado, que passou três meses em ‘denial’, está começando a ver a realidade se impor.
 
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