A Sanepar subiu quase 5% no primeiro dia de negociação da oferta que movimentou R$ 1,97 bilhão.

A oferta marcou o ‘re-IPO’ da companhia de água do Paraná, que já era listada mas tinha baixa liquidez, e, muita gente espera, é o início de uma bela amizade entre o mercado e o esquecido setor de saneamento.

A oferta foi precificada na segunda à noite a R$ 9,50 — um pouco acima do piso do intervalo proposto, de R$9.23 – R$11.25 — e a ação fechou nesta quarta a R$9,95.

“Se você acredita que o juro vai cair no Brasil no ano que vem, mas não quer fazer uma aposta no crescimento econômico, você tem que comprar esse setor de água,” diz um investidor internacional com um longo histórico de investimento no Brasil. “Você vai tomar o mesmo número de banhos no ano que vem, e essas empresas vão crescer fazendo novas conexões de água e esgoto — thank God.  E para que os governos possam atrair investimento, você deve ter um ambiente regulatório melhor daqui pra frente do que teve daqui pra trás.” 

Cerca de 60% da oferta da Sanepar foi alocada junto a investidores brasileiros, com três ou quatro gestoras do Rio levando alocações significativas. Outros 40% foram para investidores internacionais.

“Essa ação vai virar uma queridinha do mercado: eu acho que ela vai subir metodicamente e vai ser bem defendida por esses caras,” diz o investidor internacional.  “Mas, no final do dia, a diferença entre comprar Sanepar e Copasa é a mesma entre cachorro quente e hambúrguer: é o mesmo retorno, a mesma narrativa.”

Com a Sanepar negociando a apenas 5,5 vezes o lucro estimado para 2017, muitos investidores estão satisfeitos com a margem de segurança oferecida pela concessionária, e estão trocando ações mais expostas à economia por um ativo mais defensivo.

O mais importante da oferta da Sanepar foi colocar o setor em evidência. 

“Antes, você não tinha propriamente um setor de sanemaento para investir: a Copasa estava quebrada e você só tinha a Sabesp.  Agora, os fundos globais que investem em água têm mais motivos para vir ao Brasil e fazer um ‘water day’ [um dia em que fazem reuniões com as três empresas do setor na Bolsa],” diz outro investidor. “Isso vai criar um ciclo virtuoso.”

O Estado do Paraná vendeu 38,4% de sua participação e reforçou seu caixa em R$ 893 milhões, já considerando os lotes adicionais e suplementares. Outros vendedores incluíram a Dominó Holdings (veículo da Copel e da Andrade Gutierrez), que vendeu 72% de sua participação. Tanto a Andrade Gutierrez Concessões quanto o fundo Caixa FGP-PR venderam a totalidade de suas participações.

Depois da oferta, o ‘free float’ da Sanepar aumentou de 19,4% para 59,6%.  Seu controle, no entanto, segue estatal.  O Estado do Paraná reduziu sua participação de 51,4% para 29,9% nas ações PN, mas continua dono de 75% das ações com direito a voto, que não negociam.

Os coordenadores da oferta foram Bradesco BBI, Itaú BBA, BTG Pactual e Banco Votorantim.

Os papéis da Sanepar já subiram 234% neste ano, em parte por conta da expectativa do ganho de liquidez com a oferta e a perspectiva de uma maior racionalidade tarifária por parte das agências reguladores estaduais.

Para a Bovespa, a oferta da Sanepar fecha com um suspiro de alívio o ano tenebroso de 2016.  

As grandes operações do ano cabem nos dedos de uma mão: Rumo (R$2,6 bilhões), Energisa (R$1,36 bilhão), Taesa (R$1,29 bilhão), CVC Brasil (R$ 1,23 bilhão), e o IPO da rede de medicina diagnóstica Alliar, que levantou R$ 674 milhões e cuja ação implodiu em seguida.

Há menos de uma semana, a Construtora Tenda cancelou seu IPO, alegando ‘condições adversas de mercado’; a Gafisa, controladora da Tenda, preferiu vender um pedaço da empresa a um fundo de private equity e distribuir as ações restantes a seus acionistas.