Sem falar na ousadia de anunciar uma mudança de preços antes de saber o resultado eleitoral americano (um evento com implicações de mercado ainda desconhecidas), a decisão mostra que a gestão Pedro Parente está se mantendo fiel à política de preços recém-anunciada. No mês passado, a estatal anunciou que passaria a ajustar seus preços observando as oscilações do petróleo no mercado internacional e a variação de seu próprio ‘share’ no mercado doméstico de distribuição de combustíveis.
Como a reunião da OPEP este mês foi um fracasso, o petróleo voltou a desabar na última semana; levando-se em conta os preços praticados até ontem, o prêmio da gasolina no mercado doméstico estava em quase 22%, e o do diesel, em 34%.
Com uma das maiores dívidas corporativas do mundo, a Petrobras poderia surfar esse prêmio e gerar mais caixa para reduzir seu endividamento. O JP Morgan estima que os dois cortes levarão a companhia a perder US$3,4 bilhões em EBITDA em 2017, uma queda de 11%.
O corte anunciado em 14/10 fez o prêmio médio ponderado da gasolina e do diesel cair de US$18/barril para US$15,7, segundo dados do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE).
Em seguida, o fracasso da OPEP fez com que o prêmio desse outra estilingada: de US$15/barril para US$22.
Com a última redução, o prêmio comprime de novo — de US$22 para US$15,7/barril (não coincidentemente, o mesmo nível pré-OPEP).
Isso sugere que a Petrobras está ancorando o prêmio neste nível para mostrar consistência e previsibilidade. Talvez esta mensagem fosse desnecessária, na medida em que Parente e sua equipe já conquistaram a confiança do mercado. (Além do que, o verdadeiro teste de consistência virá no dia em que a Petrobras tiver que elevar os preços).
Mas a decisão de ontem também pareceu mais coerente com a nova política de preços do que a redução anterior. Na véspera do primeiro corte, no mês passado, o diesel no mercado doméstico estava com um prêmio bem maior que a gasolina, e a empresa estava perdendo mais share no diesel. Ainda assim, a estatal reduziu o preço da gasolina (3,2%) mais que o diesel (2,7%). A redução de ontem segue a cartilha mais de perto.