Nos últimos anos, ele não deu trégua ao governos do PT, criticando tudo que levou a Petrobras ao estado atual: preços artificiais, política de conteúdo nacional, ufanismo com o pré-sal, gigantismo e corporativismo.
O Brazil Journal conversou com ele hoje à noite sobre a nova política de preços anunciada pela Petrobras.
Você passou os últimos 10 anos batendo forte no governos do PT porque eles usaram a Petrobras como instrumento de política econômica — congelando preços para não gerar inflação e criando uma política de conteúdo nacional que se tornou uma estufa de corrupção e ineficiência. Essa nova política de preços põe fim a essa instrumentalização?
Começa a por fim na medida em que atende a duas coisas que há muito tempo o mercado pede à Petrobras: uma política de preços transparente e com previsibilidade. O presidente da Petrobras falou que daqui para frente o preço da gasolina e do diesel não será inferior ao do mercado internacional. Com isso, ele garante que a empresa não será mais usada de forma populista para ajudar a eleger políticos e controlar a inflação. É sempre bom lembrar que a Petrobras perdeu no primeiro mandato da Presidente Dilma US$ 40 bilhões com os subsídios à gasolina e ao diesel. [Pedro Parente] também anunciou que será criado um grupo dentro da empresa para acompanhar os movimentos do mercado internacional, a taxa de câmbio e o market share da empresa no mercado interno.
Houve outros avanços?
Outra medida é que a empresa poderá praticar preços diferenciados por região no Brasil, com o objetivo de preservar seu market share. Exemplo: se houver uma grande importação de diesel pelo porto de Suape, a Petrobras poderá reduzir naquela localidade o preço do diesel para manter o seu share. Foram esses anúncios que agradaram o mercado. Além do mais, nesse momento em que a empresa anuncia a venda da BR, de refinarias e de terminais de importação de líquidos, ter um política conectada aos movimentos do mercado internacional, câmbio e mercado interno é fundamental para atrair investidores e parceiros de qualidade.
A Petrobras também anunciou a redução de 3,2% no preço da gasolina na refinaria e de 2,7% no diesel.
O que surpreendeu foi essa redução dos preços. Ela vai impactar e causar uma redução do EBITDA e não vai reduzir os preços na bomba. Eu acho que o correto seria anunciar a nova política e manter os preços da gasolina e do diesel. Até porque, nas últimas semanas o prêmio [do mercado interno com relação aos preços internacionais] tem caído com o aumento do preço do barril, na expectativa de que na reunião da OPEP em novembro haverá um acordo para reduzir a produção. Ou seja, para que reduzir os preços da gasolina e do diesel num momento em que o preço do petróleo está subindo?
O consumidor vai sentir essa queda? O preço vai cair na bomba?
Não vai. Isso porque o preço que está sendo reduzido é o da gasolina A, e a que consumimos é a C (que mistura etanol anidro, enquanto o diesel mistura biodisel). Além do mais, devido à crise econômica as margens dos donos de postos tem sido muito achatadas, o que vai fazer com que o preço não se altere. Ou seja, a Petrobras perde geração de caixa e o consumidor não vê queda na bomba. A única explicação para a redução no preço pode ser de origem econômica. Reduzir agora o preço da gasolina — que é integrante do IPCA — pode dar mais conforto para que o COPOM na próxima semana reduza os juros.
A fórmula deixa espaço para a Petrobras mexer no preço conforme ela perder ou ganhar participação de mercado. Do ponto de vista da previsibilidade, seria preferível uma fórmula ‘limpa’, que atrelasse o preço doméstico APENAS aos preços internacionais?
O presidente da Petrobras rejeita o termo ‘fórmula’. Ele fala em uma política de preços sintonizada com os movimentos do mercado internacional, câmbio e mercado interno. Conceitualmente ele está correto, mas a fala é subjetiva e não deixa claro como serão feitas as contas. Hoje, o mercado admira e aplaude, com muita razão aliás, o Pedro Parente, mas o que acontece o dia que ele não estiver mais lá?
Essa questão de como fazer as contas é muito importante. Por exemplo: pelo anúncio de hoje, se você fosse seguir o critério dos movimentos do mercado internacional e do interno, a redução no preço do diesel deveria ter sido superior ao da gasolina, já que o prêmio do diesel tem sido muito superior ao da gasolina e a perda de mercado pela Petrobras também tem sido maior no diesel. Sendo assim, uma fórmula como a que existiu no governo FHC — em que todo início de mês os preços eram reajustados pelo ocorrido no mercado internacional e no câmbio — daria mais transparência e previsibilidade. De todo modo, acho que a médio prazo a tendência é termos no Brasil preços alinhados ao mercado internacional pelo fato do monopólio da Petrobras estar diminuindo, na medida que a empresa precisa vender ativos, o que vai promover uma maior concorrência.
Nesse momento, o Governo poderia ter aproveitado os preços baixos do petróleo lá fora para reduzir o preço aqui e ao mesmo tempo aumentar a CIDE, o que seria uma forma do Governo arrecadar mais e ajudar no ajuste fiscal. Por que você acha que o Governo não aproveitou para fazer isso?
Acho que o governo tem uma visão míope do papel da CIDE. Ela tem de ser encarada como um imposto ambiental, como um mecanismo para dar competitividade ao etanol hidratado e aumentar a arrecadação da União, Estados e Municípios. O Brasil não pode e não deve caminhar na direção contrária ao mundo, onde se promovem cada vez mais politicas de incentivo ao consumo de combustiveis renováveis e limpos e que desestimulam o consumo de combustíveis fósseis. O governo precisa deixar de olhar para a CIDE exclusivamente sob o ângulo da inflação, deixando de lado os beneficios ambientais e um papel mais relevante do etanol hidratado e do biodiesel na matriz. Caso ocorra uma queda no consumo de etanol hidratado, não cumpriremos as metas da COP 21 de Paris.
Quais as consequências dessa nova política de preços para o setor de etanol?
As consequências para o etanol estão ligadas à CIDE, e não à política de preços da Petrobras. Enquanto o governo não entender que a CIDE é um imposto ambiental, será difícil incentivar investimentos no etanol e o resultado será uma queda na sua produção e um aumento na produção de açúcar.
Qual sua avaliação sobre os avanços que a Petrobras tem feito em seu programa de venda de ativos e na recuperação de sua credibilidade no mercado?
A Petrobras tem avançado muito. Mas o que me preocupa é essa venda estar sendo feita com muito pouco cuidado com a regulação. Caso não se adeque a regulação a esse cenário de venda de ativos, poderemos ter no futuro problemas graves no mercado de petróleo e gás no Brasil, promovendo insegurança jurídica e instabilidade regulatória.
Dê um exemplo.
Na venda recente dos dutos da Petrobras para a Brookfield, na prática você transformou um monopólio estatal num monopólio privado, com pouca preocupação com o que pode acontecer lá na frente. Em casos como esse, o Governo e a Petrobras tem que jogar juntos para reformar o marco regulatório com rapidez e de tal forma que não prejudique o programa de desinvestimento da empresa.