Vamos chamar as coisas pelo que elas são.
Quando se achava que era impossível o País ficar mais rachado, temos agora que escolher entre a moral e a estabilidade econômica, entre uma Política impoluta e uma Economia que gere empregos.
É só disso que se trata a escolha que cada um de nós faz hoje, entre o ‘Fora Temer’ e o ‘Deixa o Homem Trabalhar’.
É uma escolha de Sofia, com cada alternativa implicando prejuízos de natureza diferente.
As primeiras 24 horas depois da notícia da gravação foram de paralisia. Não era possível que aquilo estivesse acontecendo. Este País já sofreu demais desde a reeleição de Dilma — e, pode-se dizer, mesmo antes dela.
A economia foi desarranjada até o limite, jogando pela janela a nota de crédito, duramente conquistada, que cravava: “País sério!”. Cerca de 12 milhões de empregos foram sugados no ralo da pior recessão desde 1929. Enquanto isso, a Lava Jato mostrou que o câncer não era localizado; era septicemia. Fomos pra rua, cidadãos divididos. Uns pedimos a saída da Presidente, outros (e é importante reconhecer que o outro existe, se somos de fato democratas) achavam que aquilo era golpe, que não havia motivo.
Sofremos. Sangramos moralmente. Nos entristecemos até a alma, enquanto nos agarramos à esperança de que estávamos, enfim, num ponto de inflexão para nossa Política. Nossos filhos viveriam num País diferente.
O Governo Temer assumiu: fraco de rua, natimorto nas redes sociais, mas forte no Congresso.
Temer arregaçou as mangas. O oposicionista mais ferrenho haverá de concordar que contra fatos não há argumentos: a economia virou. O dólar (que governa o preço do pãozinho, da eletricidade, do peru de Natal e da gasolina) voltou a um patamar saudável. Com a racionalidade instalada, a inflação recuou, enchendo o bolso do pobre, sempre o agente mais indefeso. Em fevereiro, a economia gerou empregos pela primeira vez em 22 meses. O País do futuro voltou a sonhar com um.
Mas agora, temos que escolher: continuar neste caminho, ou parar para trocar o Presidente?
Depois que as 24 horas passaram, que a gravação emergiu e o pânico se instaurou, o PIB e o mercado financeiro fizeram sua escolha: ‘fica, Temer’. Pouca gente tem coragem de dizer isso, pois, no debate raso, rotulador e reducionista que temos hoje, a percepção pública desta escolha (o que os americanos chama de ‘optics’) é de que ela equivale a sancionar os atos do Presidente, suas conversas questionáveis e seus crimes prováveis.
Obviamente, não se trata disso, mas no Brasil de hoje, até explicar que aquele suspeitíssimo focinho de porco não é a maldita tomada….
O ‘Fica Temer’ está lastreado na velha máxima: ‘o ótimo é inimigo do bom’.
Tendo que escolher entre Temer no Planalto com uma economia funcionando ou uma Madre Tereza no Planalto e uma economia em pânico, o mercado raciocina:
1. Não há madres Terezas na Política.
2. O preço da incerteza é alto demais para quem já pagou tanto.
3. O detentor de um eventual mandato-tampão teria a convicção e a força para aprovar as reformas?
4. Diferentemente da saída de Dilma, não há multidoões nas ruas, e as que há, advogam apenas a volta do Antigo Regime ao poder (o mesmo PT já eviscerado pela Lava Jato).
Para muita gente, tirar Temer agora em busca de um Presidente inatacável é trocar o que está dando certo pelo desconhecido. O País teria mais a perder do que a ganhar. Na visão de empresários e gestores, a eleição de 2018 está logo ali, dando ao País a chance de fazer sua escolha moral, elegendo um candidato que seja melhor que Temer.
O País está rachado e o jogo está sendo jogado. Na sexta-feira, O Globo fez um raro editorial pedindo a renúncia; já o Estadão — porta-voz histórico da elite paulistana — fez um editorial pedindo ‘responsabilidade’ e questionando o modus operandi do vazamento.
O filósofo Ortega y Gasset já disse, sabiamente, que “o homem é o homem e as suas circunstâncias.”
O que você escolhe?