A Movida e a Unidas estão em conversas avançadas para uma fusão, um movimento que criaria um No. 2 forte num mercado de locação ainda pulverizado e reduziria o ‘gap’ com a Localiza.
Segundo fontes a par do assunto, as companhias já fizeram bastante progresso na discussão da relação de troca de ações, e a distância que separa as partes de um acordo é pequena. A negociação agora está focada nas demais condições e na governança.
Ainda assim, como em toda operação do tipo, não há garantias de que as partes chegarão a um acordo final.
A empresa combinada teria uma frota total de cerca de 126 mil carros, comparada aos 151 mil carros da Localiza. No segmento de ‘rent a car’ – o aluguel de carros no varejo — o market share combinado das duas empresas seria de quase 29%, contra 39% da Localiza.
A nova empresa teria maior poder de barganha com as montadoras na compra de carros, e a fusão traria sinergias administrativas, operacionais e de marketing relevantes. A troca de ações também equivaleria a um ‘IPO reverso’ da Unidas, uma empresa privada controlada pelos fundos de private equity Kinea, Gávea e Vinci, que juntos têm 45% da empresa.
A americana Enterprise, que comprou 20% da Unidas em outubro do ano passado, continuará no capital da empresa resultante da fusão, mas não está claro se injetará mais capital para aumentar sua participação.
Também não está claro se a nova empresa preservará as duas marcas ou manterá apenas uma.
A Unidas faturou R$ 1,2 bilhão no ano passado; a Movida, R$ 1,8 bilhão. A Localiza teve receita de R$ 4,4 bilhões. Os dados incluem a venda de carros seminovos.
As duas empresas se complementam: enquanto na Movida 77% das receitas vêm do negócio de ‘rent a car’; na Unidas 50% da receita vem do aluguel de frotas.
As duas companhias competiram pelo interesse dos investidores no começo do ano, ao entrar praticamente ao mesmo tempo com pedidos de IPO.
A Movida teve que dar um desconto nas ações, que saíram a R$ 7,50 – abaixo do piso inicialmente pretendido – mas conseguiu emplacar a operação. A Unidas não conseguiu demanda nos múltiplos que queria e engavetou a oferta.
Se materializada, a fusão vai coroar uma trajetória de criação de valor improvável num Brasil de economia flácida.
Comprada pela Julio Simões Logística (JSL) em 2013, a Movida investiu agressivamente em marketing e, com preços abaixo da concorrência, catapultou sua fatia de mercado de menos de 5% para 17,7% em quatro anos.
O crescimento ocorreu à custa de rentabilidade, mas a empresa vem tentando arrumar a casa. “O mais difícil, que é conquistar o consumidor, eles já fizeram. Agora, é fazer a lição de casa e azeitar a operação, o que não é exatamente simples, mas é mais fácil”, diz um gestor que carrega a ação desde o IPO.
O resultado do segundo trimestre, que foi divulgado na terça-feira à noite, mostrou que, de fato, a tarefa é mais complexa do que o mercado esperava. O faturamento teve alta de 27% na comparação anual, mas as provisões para carros roubados e inadimplência derrubaram o lucro.
A ação da Movida mergulhou 11% no pregão de ontem, devolvendo parte da alta de 42% que tinha ocorrido desde o IPO. Mais de 9 milhões de papéis trocaram de mãos — o maior giro do papel desde sua estreia na Bolsa — enquanto, nos últimos 30 dias, o volume médio diário não passava de 760 mil ações.
A companhia vem tomando medidas para conter a sangria: passou a rastrear a maioria dos carros – antes apenas os de maior valor eram chipados. Ao mesmo tempo, começou a negativar os consumidores que não pagavam as diárias, numa tentativa de reduzir a inadimplência.
Nos últimos anos, o crescimento das maiores locadoras de veículos se deu em cima das empresas de menor porte. Segundo dados da Movida em seu website, a participação das ‘top 3’ no mercado de ‘rent a car’ passou de 40% em 2014 para quase 70% agora.
A fatia de mercado da Unidas, neste período, saiu de 6,9% para 10,6% no fim do ano passado.