No mês de junho, pela primeira vez o volume transacionado pelo Mercado Pago foi maior fora da plataforma do Mercado Livre do que dentro – consolidando a metamorfose da empresa de ecommerce para ecossistema de pagamentos.
“O mercado endereçável de pagamentos é muito maior que o de ecommerce, é uma tendência natural”, o COO e vice-presidente do Mercado Livre para a América Latina, Stelleo Tolda, disse ao Brazil Journal.
A companhia fechou o trimestre com lucro de US$ 16 milhões, revertendo o prejuízo de US$ 11 milhões um ano antes. Mas mantém a tese de, neste momento, focar mais no crescimento da base do que necessariamente em rentabilidade.
“Estamos numa fase de desenvolvimento tanto do Mercado Pago quanto do Mercado Livre em que é preciso investir e muito do crescimento de três dígitos que estamos vendo em Mercado Pago tem a ver com esses investimentos”, diz Stelleo. “Por isso eu não descarto que a gente venha a ter perdas na última linha [do balanço] nos trimestres futuros”.
Ao todo, foram transacionados US$ 6,5 bilhões no sistema do Mercado Pago no segundo trimestre na América Latina, uma alta de 47% em dólares e de 90% se considerado o câmbio constante.
Desse valor, US$ 3,4 bilhões correspondem às vendas realizadas via Mercado Livre.
Dos US$ 3,1 bilhões restantes, 42% referem-se aos pagamentos feitos via Point, as maquininhas voltadas para microempreendedores individuais — o mesmo mercado explorado pela PagSeguro. Ao todo são 3 milhões de maquininhas que realizaram pelo menos uma transação nos últimos 12 meses.
Outro US$ 1 bilhão diz respeito ao merchant services, os pagamentos em plataformas eletrônicas que são processados pelo Mercado Pago. O restante diz respeito à carteira digital, que permite o pagamento de contas, boletos e serviços como recarga de celular, entre outros ativos. O número de ‘pagadores ativos’ na carteira digital é de 4,5 milhões na América Latina.
É a primeira vez que a empresa divulga esses números detalhados.
No ecommerce, o Mercado Livre manteve a tendência de aceleração de crescimento verificada no primeiro trimestre. No Brasil, o volume total comercializado (GMV, no jargão do setor), aumentou 27% em câmbio constante frente ao segundo trimestre de 2018. É o dobro do crescimento de 15% para o mercado de ecommece no Brasil projetado pela eBit Nielsen.
O número de compradores únicos — que fizeram pelo menos uma transação — subiu 21%, recuperando fôlego em relação ao primeiro trimestre, quando tinham avançado 10,8%.
“Continuamos a utilizar nosso investimento em frete grátis”, diz Stelleo. “A gente tinha deixado de oferecer frete grátis para o Norte do país e voltamos a oferecer para transações de mais valor agregado e esse tipo de transação atrai mais compradores”.
O Mercado Livre está capitalizado e, após uma oferta de ações finalizada em março, tem R$ 3 bilhões para investir no Brasil, principalmente em logística (incluindo fretes) e no crescimento do braço de fintech. (A política de frete grátis — que vale para compras acima de R$ 120 — é bancada em parte pela plataforma e em parte pelo vendedor.)
ARQUIVO BJ
Mercado Livre vê negócio de pagamentos até maior que o marketplace