A Blue Apron – ‘avental azul’, em português – pretende fazer uma oferta de ações na NYSE que pode avaliar a companhia na casa dos US$ 3 bilhões, de acordo com a Bloomberg. 

Em meio à competição crescente nos serviços de delivery, o IPO vai sinalizar se um novo modelo de negócios está no ponto para ser servido.  Mezzo iFood, mezzo Dollar Shave Club, a Blue Apron une o delivery aos clubes de assinatura: o cliente recebe periodicamente as receitas e seus respectivos ingredientes para cozinhar em casa.

O modelo caiu no gosto dos americanos. Em cinco anos, a Blue Apron já tem 1 milhão de assinantes, faturou quase US$ 800 milhões em 2016 e se tornou o primeiro unicórnio do fundador Matt Salzberg — filho do CEO da Deloitte, Barry Salzberg — que tem um histórico de criação de startups.

“Só mesmo num país desenvolvido poderia surgir uma empresa que entrega os ingredientes por um preço maior do que você poderia comprar a comida pronta,” observa um investidor de VCs.
 
É fácil entender o otimismo da Blue Apron com a Bolsa.  A holandesa Takeaway.com, com 7 milhões de usuários, fez seu IPO em setembro e foi avaliada em US$ 1,1 bilhão. De lá pra cá, a ação já subiu 55%.  A Just Eat, a maior do mundo, com 14 milhões de usuários – e dona de 40% do iFood – fez sua oferta inicial na Bolsa de Londres em 2014. Desde então, o valor de mercado praticamente dobrou: saiu de US$ 2,4 bilhões para US$ 4,5 bilhões.
 
Mas por debaixo dessas headlines de sucesso, a verdade é que as startups de delivery de comida vivem uma concorrência brutal, e fazer dinheiro está se mostrando uma tarefa complicada. Só no mercado de ‘meal kits’, onde a Blue Apron opera, mais de uma dezena de empresas já oferecem o serviço, e a destruição criativa tem feito baixas ao longo do caminho.
 
A Sprig, que propunha a entrega de refeições saudáveis em 15 minutos e já tinha recebido quase US$ 60 milhões de fundos de VC, encerrou as atividades neste ano. A Maple, de Nova York, que preparava as receitas em sua cozinha própria, foi pelo mesmo caminho. A SpoonRocket, que seguia o modelo mais tradicional de entregas rápidas, fechou as portas nos Estados Unidos — o iFood aproveitou a xepa e comprou a tecnologia da empresa para reforçar sua operação no Brasil.

Na Blue Apron, apesar de a receita ter crescido quase 10 vezes nos últimos três anos, o prejuízo só cresce. No primeiro trimestre deste ano, a empresa perdeu US$ 52,2 milhões — quase o mesmo prejuizo do ano passado inteiro, que foi de US$ 54,9 milhões. (No fim de março, havia US$ 62 milhões em caixa.)

A empresa oferece dois pacotes: o mais popular, para duas pessoas, entrega três receitas por semana por US$ 59,94. O outro serve uma família de até quatro pessoas, com opção de dois ou quatro pratos semanais, por US$ 69,92 ou US$ 139,84, respectivamente.

Para atrair novos clientes, a Blue Apron dá um desconto; o problema é mantê-los ativos quando a empresa começa a cobrar o preço cheio. Os investimentos em marketing também são altos: no ano passado, chegaram a US$ 144 milhões, ou 18% da receita. 

Conseguir o valor de US$ 3 bilhões pretendido pela Blue Apron pode ser mais difícil do que a empresa imagina. A alemã HelloFresh, por exemplo, teve que dar um desconto em sua última rodada de captação, em dezembro. Na ocasião, foi avaliada em US$ 2,2 bilhões – 20% a menos do que 15 meses antes. 

O prospecto da oferta — 100% primária — ainda é preliminar, mas os fundadores manterão o controle, com 40% das ações classe B após a oferta (a classe B tem dez vezes o poder de voto das ações classe A que serão oferecidas ao mercado.)  Os coordenadores são Goldman Sachs, Morgan Stanley, Citigroup e Barclays.