Se tem uma coisa que Roberto Klabin aprendeu observando o mundo dos negócios familiares é que nem sempre o caminho óbvio é o mais interessante.
Herdeiro de uma das maiores empresas de papel e celulose do Brasil, ele poderia ter seguido a trilha corporativa tradicional. Em vez disso, transformou 53 mil hectares no Pantanal em um experimento audacioso: provar que a conservação pode ser mais lucrativa que a destruição.
A fazenda Caiman, herdada nos anos 1980 na partilha dos bens da família, virou laboratório de uma ideia sedutora e ainda meio utópica: o capital natural como ativo financeiro.
“Não me oponho ao capitalismo, mas proponho uma forma de atuação que valorize o capital natural,” disse Klabin, que mantém participação no grupo empresarial da família enquanto desenvolve este modelo alternativo.
A Caiman não é uma fazenda qualquer. É uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) que funciona como empresa – e uma empresa que dá lucro.
O modelo econômico combina turismo ecológico de luxo com ciência aplicada, seguindo a máxima “menos turistas, mais qualificados.” O gado, que antes respondia por toda a receita da propriedade, hoje representa só 40%, sendo o restante proveniente da pousada de luxo.
Com isso, a propriedade que empregava 30 pessoas na década de 1980 hoje gera 105 postos de trabalho. Parte significativa da equipe é composta por mulheres da região, treinadas em hospitalidade e técnicas de conservação.
A estratégia de baixo volume e alto valor não é apenas operacional – é filosófica. Enquanto o turismo de massa pressiona ecossistemas frágeis, a Caiman cobra um valor premium pela experiência exclusiva de observar onças-pintadas em seu habitat natural.
Essa experiência é garantida pelos projetos de preservação instalados na propriedade, como o Onçafari e o Arara Azul.
Segundo Klabin, os conservacionistas ainda produzem ciência, o que gera um valor econômico indireto significativo, criando uma diferenciação de marca que se converte em valores de hospedagem diferenciados. A fazenda deixou de ser propriedade rural para se tornar hub de produção e divulgação de conhecimento.
Há também a possibilidade de gerar receita com os créditos ambientais.
O momento não é muito positivo, já que o mercado de créditos de carbono tenta se recuperar das fraudes que abalaram sua credibilidade. Klabin, no entanto, enxerga no horizonte um mercado ainda mais promissor em desenvolvimento: os créditos de biodiversidade.
“O mundo caminha para reconhecer financeiramente o valor da biodiversidade preservada,” disse ele, que já realizou estudos sobre esse mercado incipiente, antecipando o que podem ser as “bolsas da biodiversidade” do futuro.
No Brasil, o governo vem usando esse modelo no programa Floresta+ Amazônia. Voltado para a agricultura familiar, ele remunera pequenos agricultores com pagamentos que variam de R$ 1.800 a R$ 3.600 por ano, por família, conforme a redução na taxa de desmatamento. São números modestos, mas sinalizam uma mudança de paradigma: a natureza em pé vale mais que a natureza derrubada.
Klabin não romantiza o desafio. Projetos de conservação privada enfrentam um risco que outros negócios não têm: a dependência de decisões familiares e mudanças geracionais. “Tenho preocupação com o risco de a próxima geração não seguir a mesma visão,” admitiu.
Para mitigar essa vulnerabilidade, criou um instituto dedicado a garantir a perpetuidade das ações ambientais, independentemente das decisões futuras da família.
Mas sua ambição vai além da Caiman. Klabin quer transformar o projeto em modelo replicável para outros empresários do agronegócio, demonstrando que conservação e rentabilidade não apenas coexistem – se potencializam.
A valorização da terra conservada ainda é subestimada no Brasil, mas fundos estrangeiros já farejam oportunidades. Quando aplicado com governança e transparência, o pagamento por serviços ambientais gera benefícios para todos os envolvidos ao garantir retorno financeiro para quem restaura e conserva.
“Quero que isso vire inspiração para outros empresários do agronegócio,” disse Klabin. Para um País que abriga a maior biodiversidade do planeta, a mudança pode representar não apenas oportunidade econômica, mas uma necessidade estratégica.
O caso Caiman é, no fundo, uma contrarian bet: que o futuro pertence a quem conseguir precificar adequadamente aquilo que hoje consideramos “grátis”.
Se der certo, Roberto Klabin não terá apenas salvado 53 mil hectares de Pantanal. Terá inventado uma nova classe de ativos.