A Fazenda Futuro acaba de ser avaliada em R$ 2,2 bilhões (post money) numa rodada que dá poder de fogo à foodtech brasileira para ganhar mercado na Europa e nos Estados Unidos, avançando em seu plano de se tornar uma das primeiras marcas de alimentos brasileiras com penetração global.
A Série C, de R$ 300 milhões, foi liderada pelo wealth management do BTG Pactual e teve a participação da XP e do Rage Capital, um fundo de venture capital europeu. Todos os investidores da Série A e da Série B acompanharam.
A Fazenda Futuro já está presente em 24 países e seus produtos são vendidos em mais de 10 mil pontos de venda fora do Brasil, com a exportação respondendo por 45% do faturamento da empresa.
Na Inglaterra, ela já está no Top 5 das marcas plant-based mais vendidas do país. (Segundo o CEO Marcos Leta, o atum tem sido um sucesso no país, com uma venda média de 13 unidades/dia por loja).
A Fazenda Futuro ainda tem recursos da Série B em caixa, que, somados aos recursos da rodada de hoje, devem cobrir as necessidades da empresa até 2024.
A capitalização vai financiar, principalmente, a entrada da Fazenda nos Estados Unidos.
A foodtech começou a montar a estrutura no país no início do ano, quando contratou como seu CEO dos EUA Alexandre Ruberti, que liderou a distribuição do Red Bull na América do Norte. A operação só começou de fato há dois meses.
“Já fechamos com praticamente todos os grandes distribuidores de lá, falta apenas um, e em breve vamos entrar nas principais varejistas,” Leta disse ao Brazil Journal.
O plano é entrar com todo o portfólio de produtos — hambúrguer, linguiça, carne moída, almôndega, frango e atum — e se diferenciar dos concorrentes (leia-se Beyond Meat e Impossible Foods) principalmente pelo bolso.
Nos EUA, há duas faixas de preço nas carnes plant-based: a Beyond e Impossible se posicionam na faixa premium, com uma qualidade boa e preços que vão de US$ 6 a US$ 8 por pacote. Na faixa inferior, há as marcas private label, que tem uma qualidade pior, mas cobram de US$ 3 a US$ 4.
A Fazenda Futuro quer se posicionar no meio, com preços de US$ 4,99 a US$ 5,20 e uma qualidade que Leta diz ser igual ou melhor que a da Beyond e Impossible.
A brasileira consegue cobrar mais barato porque os custos no Brasil são menores que nos EUA, disse Leta.
Isso acontece porque o Brasil é um dos maiores produtores de vegetais do mundo (o insumo principal das carnes plant-based), e porque os custos de produção aqui (mão de obra, fábrica, etc) são sensivelmente menores. Há ainda uma questão tributária: nos produtos exportados, a Fazenda Futuro não precisa pagar impostos como ICMS e PIS/COFINS.
O resultado disso é que o produto fabricado aqui chega nos EUA com um custo de 20% a 25% menor que o mesmo produto feito por lá. “O que vamos fazer é repassar essa diferença para o consumidor final,” disse Leta.
Na expansão global, a Fazenda também tem planos de lançar novos produtos focados no gosto local e de entrar numa nova categoria. A foodtech deve lançar em breve uma linha de leites vegetais e de derivados (como queijos e requeijão).
Com o movimento, a Fazenda Futuro está aumentando drasticamente seu mercado endereçável. As carnes plant-based movimentam em torno de US$ 5 bi/ano nos EUA e US$ 2 bi/ano na Europa. No Brasil, os números ainda não são claros, mas a estimativa é que o mercado não passe de R$ 300 milhões.
“Não existe hoje nenhuma marca de alimentos brasileira que você viaja para a Europa, pros Estados Unidos e encontra no Whole Foods, no Walmart, na Target… O que a gente quer fazer é isso. Por que não construir uma ‘love brand’ brasileira com presença global?”