A Méliuz acaba de anunciar que comprou 10% do seu caixa em bitcoin — o primeiro passo de uma estratégia que busca replicar o sucesso que a Microstrategy teve nos Estados Unidos. 

A companhia de cashback investiu US$ 4,1 milhões na criptomoeda, comprando 45,72 bitcoins a um preço médio de US$ 90.296.

Com isso, a Méliuz se torna a primeira empresa brasileira listada a ter um investimento dessa magnitude em bitcoin.

A Méliuz disse ainda que criou um “comitê estratégico de bitcoin” que vai analisar a viabilidade de se ampliar essa estratégia. A expectativa é que um estudo preliminar seja divulgado ao mercado em 45 a 60 dias. 

O comitê também será responsável por operacionalizar as compras de bitcoin e criar as diretrizes e governança específicas para esse tema. 

Israel Salmen, o chairman e maior acionista da Méliuz, disse ao Brazil Journal que a companhia tomou essa decisão porque avaliou que o bitcoin é uma “alternativa mais inteligente para a aplicação do nosso caixa.”

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“Vemos o bitcoin como uma reserva de valor de longo prazo. Não temos interesse nenhum em vender os bitcoins que compramos. Não somos traders. Queremos construir valor no longo prazo,” disse ele. 

Israel admitiu que o movimento pode adicionar risco ao negócio se a fatia alocada do caixa for ampliada. 

“Mas a Méliuz sempre topou tomar risco, desde que fundei a empresa em 2011,” disse ele. “Já tentamos coisas que deram certo, coisas que deram errado, e estamos vendo nessa estratégia uma forma de deixar de depender do real e aplicar no bitcoin, que rendeu 77% ao ano em dólar nos últimos dez anos.”

A estratégia da Méliuz se inspira na da Microstrategy, uma empresa de software americana que começou a investir seu caixa em bitcoin no início de 2020.

Na época, o fundador Michael Saylor foi tido como louco — mas a estratégia deu certo.

Com a valorização astronômica do bitcoin nos últimos anos, a companhia saiu de um market cap de US$ 500 milhões em 2020 para os US$ 77 bilhões de hoje. A Microstrategy hoje tem cerca de 499 mil bitcoins no caixa, que valem US$ 45 bilhões. 

Outro exemplo mais conhecido é o da Tesla, que tem 11,5 mil bitcoins no caixa, que valem hoje pouco mais de US$ 1 bilhão. 

A estratégia da Méliuz vem num momento em que a ação da empresa está completamente esquecida na Bolsa — o que também explica o movimento. 

Em seu auge, em meados de 2021, a Méliuz viu sua ação multiplicar de valor e chegou a negociar uma média de R$ 250 milhões por dia, com a empresa valendo quase R$ 6 bilhões. 

Hoje, a empresa inteira vale R$ 270 milhões e quase nenhum analista cobre mais o papel. 

Numa carta aos acionistas explicando a decisão, Israel lamentou a situação:

“Nossa ação perdeu relevância no mercado, passando a movimentar, em média, apenas R$ 4 milhões por dia no mercado à vista, enquanto a liquidez no mercado de opções praticamente desapareceu,” escreveu o chairman

“Com essa redução, perdemos a atenção dos investidores, nossos calls de resultados trimestrais ficaram esvaziados e alguns dos grandes bancos encerraram a cobertura da nossa ação. Estamos em um cenário de baixa visibilidade e interesse, sem um caminho claro para reverter essa situação.”

Na carta, Israel diz ainda que alocar um volume relevante do capital da empresa em renda fixa pode parecer uma estratégia prudente, mas “na prática, acreditamos representar um custo de oportunidade significativo e detrimental aos nossos acionistas,” escreveu. 

“Muitas pessoas enxergam o bitcoin como um ativo de alto risco. Mas será que compreendemos verdadeiramente o conceito de risco? O que é mais arriscado: manter reservas em dinheiro sujeito a desvalorização devido a políticas públicas de forte expansionismo monetário ou investir em um ativo verdadeiramente escasso, que valorizou nos últimos 10 anos 77% ao ano em dólar e tem um valor de mercado de aproximadamente US$ 1,5 trilhão?”