A fábrica de R$ 800 milhões que a BIOMM construiu em Nova Lima, ao lado de Belo Horizonte — e que estava pronta desde 2020 — finalmente vai começar a operar.
Em meados do ano passado, a companhia conseguiu da Anvisa as certificações que faltavam. Agora, acaba de concluir um follow-on que vai lhe dar o capital de giro necessário para começar a produção de insulina glargina, que o diabético pode tomar uma vez por dia, sem horário fixo, e que tem uma duração maior que a insulina humana.
A ideia é que, já neste ano, a fábrica de Nova Lima produza mais de 10 milhões de frascos e carpules (seringas) do biomedicamento, feito por meio da técnica de DNA recombinante. Mas a capacidade da fábrica é muito maior, de 40 milhões de frascos e carpules — o suficiente para cobrir mais de 80% da demanda nacional.
O aumento de capital foi estruturado e ancorado pelo Banco Master, que aportou cerca de R$ 150 milhões dos R$ 217 milhões que a companhia levantou, ganhando uma participação de 18% no capital da BIOMM.
O restante veio de investidores que já estavam no cap table da companhia, incluindo Lucas Kallas, o controlador da Cedro Mineração, que tem 8% do capital; e o grupo de fundadores composto por Walfrido Mares Guia, Marcos Mares Guia, André Emrich e Italo Betane, que juntos têm 24% do capital. Esses investidores acompanharam a oferta na proporção de suas participações.
Outros acionistas relevantes da empresa são o BNDES, com 6% do capital; a gestora de private equity TMG, com 8%; e a XP, com 3%.
Walfrido disse ao Brazil Journal que o objetivo da BIOMM é inaugurar a fábrica entre março e abril.
Além da certificação de boas práticas da Anvisa, que a fábrica conseguiu em julho, foi preciso também fazer três lotes de teste da insulina glargina, enviar esses lotes para a Anvisa e esperar o tempo de validade do produto. Como a BIOMM começou a produção desses lotes em março do ano passado, ela deve ter a resposta no mês que vem.
“É um processo de alta complexidade que exige um controle de qualidade muito rigoroso, porque são produtos que duram um ano, um ano e meio nas farmácias ou na casa dos pacientes,” disse Walfrido. “É por isso que quase ninguém faz insulina no Brasil. A complexidade é gigantesca.”
No curto prazo, a BIOMM vai fabricar apenas a insulina glargina, que ela vende no Brasil como o Glargilin, um medicamento licenciado da chinesa Gan & Lee. No futuro, no entanto, a companhia pode produzir outros medicamentos na fábrica de Nova Lima, que tem espaço para ser expandida.
O terreno da planta é de 100 mil metros quadrados, dos quais apenas 40 mil estão sendo usados.
Segundo Walfrido, a fabricação da insulina no Brasil vai gerar um ganho de eficiência e uma economia de custos brutal.
Hoje, a empresa tem que importar a insulina que ela vende no Brasil da China, com as insulinas vindo de navio em contêineres refrigerados. Como a temperatura só pode oscilar entre 2 e 8 graus, é preciso ficar medindo a temperatura de cinco em cinco minutos.
Agora, a BIOMM vai importar da China apenas o cristal (a matéria-prima da insulina), que chegará de avião em balões de 50 a 100 litros. “Só vamos precisar deixar esses cristais na câmara fria da fábrica e ir pegando aos poucos para produzir a insulina,” disse Walfrido. “O custo logístico vai ser muito menor.”
A BIOMM fatura hoje perto de R$ 130 milhões com a venda de cinco biomedicamentos licenciados.
Além do Grargilin, ela tem o Herzuma, usado para o tratamento do câncer de mama; o Afrezza, uma insulina inalável produzida pela americana Mannking; o Wosulin, uma insulina humana recombinante da indiana Wockhardt; e o Ghemaxan, um biomedicamento da italiana Chemi, usado para tratar a trombose venosa profunda.
A companhia ainda opera com um EBITDA negativo, mas Walfrido disse que o business plan prevê que a BIOMM atinja o breakeven já em 2025, dadas as economias de custos que terá com a entrada em operação da fábrica e considerando também uma expansão robusta da receita.
Parte desse crescimento da receita virá do ganho de market share dos cinco biomedicamentos do portfólio no mercado privado, mas parte importante deve vir de um programa federal chamado PDP (Parceria para o Desenvolvimento Produtivo).
Neste programa, o Governo se compromete a comprar uma parte da produção de laboratórios locais. A BIOMM já conseguiu aprovar no programa sua insulina humana (o Wosulin), e está esperando também a aprovação da insulina glargina (o Glargilin).
Outra frente de expansão será a compra de novas licenças de biomedicamentos. Walfrido disse que a empresa já está em negociação com algumas farmacêuticas para trazer novos biossimilares para o Brasil.