A ação da Hapvida implodiu 42% hoje depois que a operadora de saúde reportou um terceiro trimestre bem abaixo das projeções do mercado — e com números que dispararam revisões negativas nos modelos dos analistas.
A companhia surpreendeu negativamente em praticamente todas as linhas do balanço – empurrando o papel a negociar a R$ 16,75 no low do dia, uma queda de 48,7%.
A sinistralidade subiu, as despesas aumentaram, o crescimento de vidas foi fraco e a geração de caixa foi negativa, com a dívida crescendo mais de R$ 200 milhões.
Para piorar, o balanço veio extremamente poluído, com diversos one-offs (positivos e negativos) que mostraram que o negócio continua volátil e instável. Considerando todos esses one-offs, o impacto positivo no EBITDA foi de R$ 98 milhões.
Ajustando por esses fatores, o EBITDA do trimestre veio em R$ 613 milhões, uma queda de 20% ano contra ano e cerca de 27% abaixo do consenso. Já o lucro líquido de R$ 204 milhões foi 20% abaixo das expectativas.
Na sinistralidade, a piora foi relevante. A Hapvida reportou um ‘cash MLR’ de 75,2% no trimestre, uma piora de 130 basis points no sequencial e de 140 bps na comparação com o mesmo tri do ano passado.

O CEO Jorge Pinheiro disse ao Brazil Journal que a piora teve a ver com a entrada em operação de hospitais próprios, que elevaram os custos fixos ainda sem a contrapartida da receita, e uma sazonalidade pior, que trouxe mais volume de atendimentos. A operadora tratou muitos casos de virose no Norte e Nordeste e sofreu com um inverno mais longo no Sul e Sudeste.
“O problema da rede própria a gente resolve com o crescimento nessas praças e os ajustes de preços, que temos feito,” disse o CEO. Já a sazonalidade deve normalizar no quarto tri. “Em novembro, já vemos uma queda nos volumes de atendimento e tendemos a voltar a patamares normais.”
O crescimento da Hapvida também decepcionou no trimestre. A companhia adicionou só 13 mil vidas, enquanto o mercado esperava mais de 30 mil, e o tíquete médio cresceu 6,1% ano contra ano, uma desaceleração em comparação aos 8,2% do tri passado.
O CEO disse que o crescimento foi abaixo da expectativa da companhia e do que ela pode fazer. “Estamos trabalhando forte para ajustar incentivos, produtos, e reforçando nossa área de gestão. Estamos trazendo uma consultoria especializada, por exemplo. Queremos usar nossa rede própria ampliada para ter mais competitividade e termos um 2026 mais favorável do ponto de vista comercial.”
O resultado foi muito ruim, “mas esse nível de queda da ação é muito mais pelo cansaço do mercado e falta de confiança do que só pelos números,” disse um gestor que tem uma posição pequena na companhia. “O mercado hoje capitulou depois de dar à companhia o benefício da dúvida por vários trimestres, esperando as sinergias da integração.”
Este gestor disse ainda que a impressão que passa é que a Hapvida “não está sabendo operar o mercado do Sudeste e ir para um novo patamar de gestão que seja mais adequada para o seu novo tamanho e as regiões que ela opera.”
“A aquisição da Intermédica foi num momento ruim do ciclo, com a ressaca da pandemia, mas agora já era para eles terem domado o animal grande que caçaram. Parece que eles não estão sabendo dar esse passo de evolução.”
A implosão da ação sugere um movimento de zeragem, já que muitos gestores de ações relevantes tinham exposição à companhia. “O mercado jogou a toalha,” disse o gestor.
A queda de hoje vai se refletir nas cotas de amanhã desses fundos, mostrando quem sofreu o maior impacto.
O volume no papel foi brutal – cerca de 115 milhões de ações, o que significa que 23% do capital da companhia trocaram de mãos. A média diária de negociação do papel é de 4 milhões de ações.
O CEO da Hapvida disse que a reação foi “exagerada” e que tanto a companhia quanto a família estão “aproveitando essa oportunidade para comprar mais.” Segundo um broker, a companhia e a família responderam juntas por um terço do volume de compra do papel no pregão.
A Hapvida tinha um programa de recompra de 20 milhões de ações – aberto em outubro e não executado até agora. Nesta quinta-feira, ela já recomprou as 20 milhões de ações, o equivalente a cerca de R$ 400 milhões, e no final do dia abriu um novo programa para recomprar mais 70 milhões de ações.
O resultado fraco levou alguns analistas a revisar seus modelos para a Hapvida, reduzindo as projeções. O BTG Pactual, por exemplo, cortou sua projeção para o EBITDA do ano que vem em 20%.
“Diferente do que o consenso vinha assumindo, achamos difícil esperar que as margens sejam muito maiores que os níveis atuais, já que uma boa parcela dos desafios vistos no terceiro tri devem persistir por algum tempo, como os custos relacionados às aberturas recentes de hospitais e as despesas maiores,” escreveu o analista Samuel Alves.
“Com isso em mente, decidimos assumir uma postura mais conservadora, assumindo margens EBITDA essencialmente estáveis para o ano que vem.”
O Itaú BBA também disse que os resultados devem levar a ajustes no modelo, mas ainda não modificou suas projeções.
A companhia fechou o dia valendo R$ 9,4 bilhões.











