O volume negociado na ação da JBS explodiu, com o papel subindo 5% no início da tarde depois de um block trade que chamou a atenção do mercado. 

No início da tarde, o papel já havia negociado mais de R$ 3 bilhões, contra uma média diária de R$ 330 milhões nos últimos 100 dias e de R$ 460 milhões nos últimos dez dias. 

Das 72,7 milhões de ações negociadas até agora, 45 milhões foram uma direta na corretora BTG – e outras 17,7 milhões numa transação de um fundo para outro que teve o Santander na venda e o Morgan Stanley na compra.

O que chamou atenção é que a ordem de R$ 1,9 bilhão negociada pelo BTG saiu a R$ 43 por ação, um prêmio sobre o preço de tela naquele momento – que estava 2,8% abaixo.

O price action fora do comum acontece três dias antes da assembleia de acionistas que vai deliberar sobre a proposta de listagem da companhia em Nova York, que tem o potencial de reprecificar o papel, alinhando seu múltiplo ao de concorrentes como a Tyson e eventualmente colocando o ação no S&P 500.

Na semana passada, investidores se mostravam preocupados com a possibilidade de rejeição da proposta depois que a Institutional Shareholders Services (ISS) — a agência de proxy voting que aconselha grandes investidores institucionais — recomendou um voto contra. O papel chegou a cair quase 20% do high histórico feito em 25 de abril. 

Ontem, o JP Morgan – que apoia a transação e tem um ‘overweight’ no papel – sugeriu aos investidores que detêm o papel comprar uma put com exercício em 30 de maio, financiando com a venda de opções de compra.

A especulação no mercado é que o vendedor do block trade tenha sido o BNDES, que tem 20% da empresa e teria resolvido vender uma fração de sua posição depois do papel ter atingido um preço que o banco havia pré-determinado como justo. A participação vendida equivale a 2% do capital da empresa.

Mas quem estaria disposto a pagar um prêmio sobre o preço de tela? Como o comprador foi a tesouraria do BTG, a tese que circula nas mesas é de que o banco poderia estar alinhado a um cliente interessado em votar na assembleia para garantir a aprovação.

A ISS se manifestou contra a listagem em Nova York porque, na estrutura proposta, os controladores da companhia — os irmãos Batista — deterão uma classe de ações com 10x o poder de voto dos outros acionistas. 

Essa estrutura de dual class é usada por diversas empresas nos Estados Unidos, incluindo gigantes de tecnologia, e empresas como Coca-Cola, Ford e o New York Times – mas a ISS é por princípio contra essa estrutura.