A Vibra Energia reportou resultados ainda pressionados no segundo trimestre, refletindo o ambiente mais desafiador para as distribuidoras por conta da entrada do diesel russo e da queda dos preços dos combustíveis.

Mas os números fracos já eram esperados pelo mercado — e, no relativo, vieram melhores que os de seus principais concorrentes, a Raízen e a Ultrapar.

boopo ernesto pousadaA ação chegou a subir mais de 7% na abertura e opera em alta de 6,1% no início da tarde. 

A Vibra reportou um EBITDA ajustado de R$ 910 milhões, com uma margem de R$ 101 por metro cúbico. Excluindo da conta fatores não-recorrentes, como ganhos com a venda de ativos e ganhos fiscais, essa margem cairia para R$ 81/m³, em linha com as projeções do sellside.

Para efeito de comparação, a Raízen reportou uma margem EBITDA de R$ 59/m³ no Brasil e de 45/m³ na América Latina; a Ultrapar reportou uma margem de R$ 80/m³ nos postos Ipiranga.

A margem da Vibra avançou 36% na comparação sequencial e caiu 42% na anual, impactada principalmente pelas remarcações dos estoques, um efeito não-caixa que acontece sempre que a Petrobras corta ou aumenta os preços na refinaria.

No segundo tri do ano passado, o barril de petróleo havia disparado por conta da Guerra da Ucrânia. Já no segundo tri deste ano, os preços estavam pressionados, gerando uma remarcação negativa de R$ 50 milhões nos estoques da Vibra. 

O resultado da distribuidora também foi impactado pela entrada forte do diesel russo, que tem sido vendido com um desconto relevante em relação ao diesel que é comprado pela Vibra da Petrobras. No trimestre, a Vibra disse que foi a única companhia que decidiu não importar o diesel russo por avaliar que a importação seria algo oportunístico, e não estrutural. 

Agora, a empresa está avaliando que a importação do diesel russo pode ser sim algo estrutural. “Se realmente for, vamos considerar essa importação no nosso sourcing,” o CEO Ernesto Pousada disse ao Brazil Journal

O melhor resultado da Vibra na comparação com o setor teve a ver com o trabalho que a companhia tem feito para reduzir despesas e aumentar sua eficiência operacional. 

No trimestre, as despesas operacionais da Vibra ficaram em R$ 68/m³, uma queda de 4,1% na comparação com o tri passado e de 0,8% na comparação anual. Ernesto disse que a companhia fez uma gestão muito próxima dos custos e trabalhou para reduzir as despesas logísticas, otimizando as rotas de entrega e o tamanho dos caminhões, por exemplo. 

Em termos de volumes, o destaque negativo foi o segmento B2B, no qual a Vibra vende o combustível para revendedores e diretamente para grandes indústrias. O volume de vendas nessa vertical caiu 5,4% no trimestre, em grande parte por uma perda de market share no chamado TRR, um perfil específico de revendedor que vende para pequenas e médias empresas.

“Foi uma perda de share bem concentrada no TRR, que foi um canal que acabou sendo bem atendido pelo diesel russo, o que fez a gente optar por não vender tanto para eles,” disse Ernesto. “Mas ganhamos bastante share no cliente direto.” 

No B2B, o EBITDA recorrente da Vibra foi de R$ 211 milhões, uma queda de 76% ano contra ano e de 33% na comparação com o primeiro tri. 

Já no varejo, o resultado foi mais resiliente, com a Vibra entregando um EBITDA de R$ 655 milhões, uma queda de 16% ano contra ano – em meio à queda de preços e volumes estáveis – e uma alta de 44% no sequencial 

A Vibra também teve uma geração de caixa operacional forte no trimestre. A companhia gerou R$ 358 milhões de caixa, com um consumo de capital de giro alto, de R$ 870 milhões. O CEO nota, no entanto, que boa parte desse consumo de capital de giro é explicado pela quitação de R$ 588 milhões de linhas de risco sacado. 

Com a forte geração de caixa, a Vibra conseguiu reduzir sua dívida bruta em R$ 400 milhões no trimestre, para R$ 12,2 bilhões. Mesmo assim, a alavancagem subiu para 2,8x o EBITDA dos últimos doze meses, em grande parte por conta do EBITDA menor no período. 

A companhia tem dito ao mercado que espera reduzir essa alavancagem para entre 2x e 2,5x EBITDA até o final do ano, conforme o resultado for melhorando, o que já deve começar a acontecer no terceiro tri.  

Ernesto disse que os meses de julho e agosto já estão mostrando uma dinâmica mais favorável, com uma alta dos preços dos combustíveis que deve beneficiar todo o setor e uma competição mais racional. 

O UBS BB tem a mesma visão. O analista Luiz Carvalho disse esperar que o segundo semestre seja um ‘turning point’ para o setor, “com potencial para melhorias nas margens, apesar da volatilidade contínua das condições de suprimento.” 

“Com a melhora nas margens e a desalavancagem, a Vibra pode começar a ser uma forte pagadora de dividendos a partir de 2024,” escreveu o analista.