A Valor Capital acaba de vender parte do seu fundo II para a gestora americana StepStone — uma transação que gera liquidez aos investidores do fundo num momento de escassez no mercado de venture capital.
O fundo alvo da transação — o Valor Venture Fund II — foi levantado em 2017 e tinha investimentos em startups como Buser, Olist, Revelo, Cloudwalk e Gupy.
A StepStone pagou US$ 80 milhões em troca de uma parcela do fundo, que na época do fechamento do negócio tinha seus investimentos marcados a US$ 320 milhões. Hoje, esses investimentos já estão avaliados em US$ 470 milhões.
(A transação foi fechada no terceiro trimestre do ano passado, mas só foi concluída recentemente).
Nesse tipo de transação secundária — conhecida no mercado como strip sale — a gestora vende uma parcela grande de suas cotas para um único investidor com o objetivo de retornar capital aos LPs — e, potencialmente, já capturar uma parcela do carry.
Scott Sobel, o CEO da Valor Capital, disse ao Brazil Journal que a transação vai dar liquidez aos investidores do fundo ao mesmo tempo em que diminui o risco do portfólio.
“Nosso trabalho como general partners é sempre buscar oportunidades de devolver [o capital aos investidores] e oferecer múltiplos [atrativos]. É algo natural e acreditamos que agora é um bom timing para fazer essa transação,” disse ele.
O valor da venda será distribuído proporcionalmente aos investidores do fundo. Por enquanto, segundo Sobel, não há negociações para movimentos semelhantes em outros fundos da Valor — mas isso “pode ser algo estudado no futuro.”
Apesar de ser uma alternativa para aumentar a liquidez dos LPs, o strip sale não é um movimento desejável no mercado.
“Pode sinalizar que algo não está indo bem no fundo ou com o investidor,” diz uma fonte. “Mostra que tem uma pressão dos investidores pelo retorno do dinheiro, seja por uma má gestão dos ativos, queda do mercado ou situação ruim do próprio investidor.”
Um gestor de venture capital, no entanto, disse que vender um portfólio mais late stage e sem desconto “parece um bom negócio no contexto atual, em que o mercado público derreteu, mas o privado ainda não teve grandes remarcações.”
“Parece uma oportunidade boa para o fundo realizar capital e já retornar parte aos investidores,” disse esse gestor. “Ele mitiga o risco e ainda guarda uma parte do upside para a frente.”
Outro investidor notou que esse fundo II da Valor “pegou o Softbank na lata, quando ele estava investindo pesado, e marcando muitas das empresas para cima.”
“Agora que o Softbank está saindo vamos ver como vai ser…,” disse ele. “Nessa perspectiva, parece que a Valor fez sim um bom negócio.”
Com a venda parcial, a Valor já deve retornar boa parte do capital investido aos LPs.
A gestora tem US$ 2 bilhões em ativos sob gestão divididos em mais de 100 companhias, sendo que 21 delas já viraram unicórnios (incluindo a Gympass, Olist, Stone e Frete.com, a antiga CargoX).
Sobel disse que a Valor está finalizando a captação de dois novos fundos – e que ambos terão a StepStone como um dos investidores, o que “solidifica ainda mais a nossa parceria.”
Grande parte dos investimentos dos novos fundos vai ser destinada ao Brasil. O objetivo será buscar empresas que tenham um grande potencial de crescimento, mas que também sejam “saudáveis” financeiramente.
“Temos que investir em negócios que vão crescer, mas nós estamos buscando empreendedores que pensem numa corrida de longa distância,” disse o CEO.