A Vale vendeu 70% da Aliança Energia numa transação que vai injetar US$ 1 bilhão no caixa da mineradora e trazer um parceiro estratégico para uma operação não-core da empresa.
O comprador é a Global Infrastructure Partners (GIP), uma das maiores gestoras de infraestrutura do mundo com mais de US$ 170 bilhões em ativos sob gestão.
A transação foi feita com a criação de uma joint venture na qual a Vale vai reter 30% do capital.
O acordo envolve ainda contratos de power purchase agreement (PPA) de longo prazo, que garantem para a Vale a compra de 70% da energia gerada pela Aliança até o fim das concessões dos ativos (um prazo médio de 21 anos). O restante da energia será vendida no mercado.
Os termos dos contratos de PPA não foram divulgados, mas o CFO Marcelo Bacci disse ao Brazil Journal que eles foram feitos em “condições de mercado.”
Segundo a companhia, os preços serão em dólar e não estarão sujeitos a ajustes de inflação.
“A gente vem trabalhando há muitos anos para operar apenas com energia limpa, uma meta que atingimos em 2023. Mas a Vale não é uma empresa de energia. Esse não é o nosso core,” disse o CFO. “Por isso, buscamos um parceiro que pudesse operar os ativos atuais e que nos ajudasse a crescer nesse caminho quando precisarmos.”
Hoje a energia gerada pela Aliança (que tem uma capacidade instalada de 2.189 MW) é capaz de suprir 100% da necessidade energética da Vale. Mas Bacci disse que a companhia tem vários projetos de expansão e pode precisar de mais energia no futuro, o que seria feito com a expansão da capacidade da Aliança.
A transação vem um ano depois da Vale ter adquirido os 45% da Aliança que pertenciam à Cemig, passando a deter 100% da companhia. Desde então, Bacci disse que a empresa vem buscando um parceiro para tocar os ativos.
Na época, a Aliança havia sido avaliada em R$ 6 bilhões, com a Vale pagando R$ 2,7 bilhões pela participação da Cemig.
Na venda de hoje, no entanto, a Vale incluiu outros ativos de energia dentro da Aliança, aumentando sua capacidade original. Nas contas do Safra, o valor que a Vale vai receber na venda de hoje equivale a um múltiplo EV/MW de R$ 3,7 milhões, 24% menor do que a companhia pagou pela participação da Cemig há um ano.
“No entanto, as condições de mercado eram muito diferentes naquela época, com um de-rating dos valuations no Brasil,” escreveu o banco.
A transação também vai ajudar a reduzir a dívida líquida expandida da Vale, que inclui os compromissos de reparação de Mariana e que fechou em US$ 16,4 bilhões no quarto trimestre.
A companhia tem sinalizado ao mercado que espera fechar o ano com US$ 15 bi de dívida.
“Esse US$ 1 bi deve ajudar a Vale a administrar sua meta de dívida líquida expandida enquanto garante uma flexibilidade adicional de caixa para suportar seu pagamento de dividendos para o ano (com US$ 4 bi parecendo algo mais provável agora, mesmo num cenário de preços de minério mais estressados),” escreveu o BTG Pactual.
“Vemos a notícia como um pequeno desenvolvimento positivo que reforça a capacidade da Vale de manter um dividend yield de 10%.”