Em setembro passado, ninguém queria encostar na ação da Vale. Com a economia em lockdown e o mercado imobiliário paralisado, a maioria dos gestores estava short ou underweight no papel quando o BTG recomendou a compra.

Deu certo: quando a China anunciou que estava reabrindo sua economia, o papel explodiu de R$ 65 para R$ 98 entre setembro e janeiro, com o minério de ferro negociando acima de US$ 120/ton.

Mas a reabertura chinesa foi “desigual e decepcionante”, e a ação agora está de volta ao patamar de setembro.

É hora de comprar de novo, dizem os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner.

“Falhamos em prever a extensão do processo de reabertura desigual e decepcionante da China, que impulsionou os setores de serviços e viagens, com pouca intensidade em commodities, mas acreditamos que o potencial de queda esteja parecendo limitado a partir de agora.”

O banco reduziu o preço-alvo da Vale de US$ 23 para US$ 18, o que ainda implica um upside potencial de 30% sobre o preço de tela.

Os analistas foram honestos a respeito de fatores que não conseguiram antecipar, como o aumento no custo do transporte do minério para a China – de US$ 52/ton no quarto tri para US$ 61,70/ton no primeiro.

Entre as causas deste aumento inesperado estão o impacto das chuvas nos embarques e uma parada de manutenção no terminal marítimo da Ponta da Madeira – problemas que, para o BTG, devem acabar no segundo semestre.

Outro erro foi a leitura macro: o banco esperava que a reabertura chinesa se aceleraria entrando no segundo tri, mas o mercado de imóveis – depois de um início de ano animador – entrou em queda, e os índices de manufatura também mostram uma economia anêmica.

Com a inflação na China rodando a zero, o BTG espera que Beijing tente animar o PIB em breve.

A chegada da Cosan ao conselho também pode destravar algum valor.

O banco vê a Cosan trabalhando com o Bradesco, Mitsui e Previ numa agenda construtiva para melhorar a execução da empresa – e a confiança do mercado.

“A Vale precisa recuperar algum share dos concorrentes australianos (convencer os investidores de que 350 milhões de toneladas – o nível pré-Brumadinho – é uma meta alcançável a longo prazo) e reduzir o seu breakeven cost para menos de US$ 50/tonelada de minério.”

O BTG reduziu o preço-alvo com base numa estimativa de custos maior – depois que a Vale desapontou no primeiro tri – e uma curva mais conservadora para o preço do minério entre 2023 e 2026. A expectativa de preços para a commodity caiu de US$ 125/105/95/80 para US$ 105/90/85/80.

Com isso, o BTG cortou sua estimativa de EBITDA em 30% para 2023 e 2024, e vê a Vale negociando a 4,5x o EBITDA de 2023.

O papel cai 25% nos últimos 12 meses. Nos últimos dias, brokers notaram que um grande fundo internacional vendeu agressivamente o papel, que também está sendo ignorado pelo investidor local – mais focado na aposta de queda de juros, que favorece as ações domésticas.

A mineradora agora vale US$ 62 bilhões na Bolsa de Nova York.