A Unidas — que acaba de ter 20% de seu capital vendido para a Enterprise — planeja vender ações na Bovespa e listar no Novo Mercado no início de 2017.

A empresa está trabalhando no IPO com BofA-Merrill Lynch, JP Morgan e Itaú BBA, e a documentação deve ser arquivada em breve junto à CVM.

Os fundos de private equity que controlam a Unidas — Kinea, Gavea e Vinci — anunciaram hoje que venderam 20% do capital da Unidas para a Enterprise, reduzindo sua participação combinada para 45%.  O segundo maior acionista da empresa é um grupo de investidores portugueses que controlava a Unidas antes da entrada dos fundos em 2011.

Na transação de hoje, a Enterprise — fundada por um homem que acreditava que, “se você cuidar de seus clientes e funcionários, o lucro cuidará de si mesmo” — avaliou a Unidas em cerca de R$1 bilhão, sem contar a dívida, de acordo com um banqueiro próximo da empresa.  No final do segundo trimestre, a Unidas tinha uma dívida líquida de R$809 milhões e uma relação dívida líquida/EBITDA de 2,4.  A Unidas, que já é de capital aberto por ter debêntures em circulação, divulga seu terceiro trimestre dia 7/11.

Segundo outra fonte, o contrato assinado com os fundos não dá à Enterprise nenhuma ‘call option’ (direito de compra) ou direito de preferência na compra de mais ações da Unidas.

A transação de hoje é consequência de um relacionamento que começou em 2012, quando a Unidas fez um acordo operacional com a Enterprise.  Desde então, nos guichês da Unidas, as marcas Enterprise, Alamo e National — que pertencem à empresa de St. Louis — aparecem próximas ao logo da empresa brasileira, o que ajuda a transmitir confiabilidade particularmente a turistas estrangeiros.

A transação — que permite à Unidas ir a mercado apoiada por um investidor-âncora, com longo histórico operacional e capital virtualmente ilimitado — é semelhante a um investimento que a Enterprise fez na China em 2012.  Na ocasião, a Enterprise comprou 15% da eHi AutoServices. Em novembro de 2014, a eHi fez seu IPO na Bolsa de Nova York, captando US$ 120 milhões. Na oferta liderada pelo JP Morgan e pela Goldman, o ADR saiu a US$12. Dois anos depois, negocia a US$10.  

A decisão da Unidas de ir a mercado imediatamente tem implicações para a JSL, que também pretende levar sua empresa de aluguel de carros, a Movida, à Bolsa.

Nos últimos meses, o IPO da Movida se tornou uma parte importante da tese de investimentos da JSL.  Investidores calculam que, se a Movida for precificada a 7x EV/EBITDA — um desconto de 30% em relação aos múltiplos da Localiza — a empresa teria um valor de mercado de R$2,3 bilhões, exatamente o valor de mercado da própria JSL, evidenciando o quanto a empresa está barata na Bolsa.

Desde que comprou a Movida em dezembro de 2013 pela bagatela de R$65 milhões, a JSL investiu pesado na empresa comprando veículos e transferindo seu negócio de gestão de frotas para a Movida.

O número de lojas foi multiplicado por seis, chegando a 209 no fim do segundo trimestre, contra 256 da Unidas.
A Movida já é a segunda maior empresa do setor, com faturamento líquido de R$480 milhões no segundo trimestre, contra R$294 milhões da Unidas.

No tamanho da frota total, as duas empresas são parecidas:  43.000 veículos na Movida e 45.600 na Unidas.  Mas a Movida é bem maior no negócio de aluguel de carros, onde tem 29.000 veículos contra 19.000 da Unidas.

O objetivo das duas companhias, claro, é ter um negócio mais parecido com a Localiza, que ainda está quilômetros à frente de suas desafiantes.

 
O retorno sobre o capital investido da Localiza foi de 17% em 2015, comparado a 9,3% para a Unidas e 9,3% para a JSL (a Movida prometeu reportar separadamente já no terceiro trimestre).
 
Em abril do ano passado, discutimos aqui os méritos de uma aquisição da Unidas pela Localiza. De lá pra cá, nada aconteceu: Salim e Eugênio Mattar continuam pagando para ver.