Quando trocou Salvador por Los Angeles há dez anos, Marcelo Valente pensava em fazer carreira na indústria de entretenimento.
Fez uma pós em ‘film & music business’ na UCLA, trabalhou na Untitled, uma das maiores agências de talento de Hollywood, e criou um network com advogados e agentes. Mas foi seu trabalho com a atriz Jessica Alba, de quem Valente foi assistente pessoal, que o fez se interessar por venture capital e, no final, trocar o ‘show business’ pelo ‘relationship business’.
Hoje, Valente é parte de um clube que tem demanda crescente: insiders que conectam famílias brasileiras com startups e empreendedores do Vale do Silício.
Quando Valente trabalhou com Jessica — a Mulher Invisível do “Quarteto Fantástico”, da Marvel — a atriz era investidora de startups e já havia fundado a The Honest Company, o unicórnio que começou vendendo fraldas ‘sustentáveis’ por assinatura e hoje é uma marca premium de produtos de limpeza e cuidados pessoais.
Através de sua Shepherd & Co, Valente vive na ponte aérea LA-São Paulo fazendo a originação de negócios para famílias. Este ano, tornou-se sócio da Babel Ventures, a gestora de VC que Bárbara Minuzzi fundou há dois anos em São Francisco.
“No ecossistema do Vale, é importante, e até muito comum, que fundos de São Francisco tenham um representante em Los Angeles, onde é mais fluido o acesso aos family offices de talentos do cinema e da música,” disse Minuzzi, que administra US$ 30 milhões na Babel.
Valente tem apresentado famílias a gestoras como a Soma Capital, investidora da Rappi; a Catapult, que vendeu a Dollar Shave Club para a Unilever e a Jet.com para o Wal-Mart; e startups de saúde e educação.
“Cada cliente tem um interesse específico, que geralmente tem a ver com a área de atuação em que a família fez fortuna,” diz Valente.
Um de seus relacionamentos mais próximos é Shahram Seyedin-Noor, o fundador da Civilization Ventures, uma gestora especializada em health tech e biotech. Formado pela Harvard Law School, Shahram advogou no Wilson Sonsini, um escritório que representa empresas como Apple e Google, e mais tarde trabalhou na Goldman.
Além de já ter fundado e vendido uma empresa de saúde, Shahram é o VC por trás da Omada Health, um aplicativo para prevenção de diabetes e hipertensão que está passando por uma rodada Series D na qual Valente está alocando clientes. A Omada tem investidores como o Andreessen Horowitz e as seguradoras Kaiser Permanente e Cigna Health.
“Nos próximos 20 anos, as maiores empresas que existem hoje, Apple, Facebook, Google, Microsoft, serão da área da saúde. Empresas baseadas em biologia. Assim como o século passado foi do Silício, esse será o da biologia,” Shahram já disse numa entrevista.
Às vezes, Valente faz a ponte diretamente com empreendedores — como os fundadores da Spinn, uma empresa de assinatura de café cujas cafeteiras são conectadas por Wi-Fi e controladas por aplicativo. A Spinn já fez a pré-venda de 12 mil cafeteiras, e vai começar a produzir este ano.
Valente diz que o trabalho não termina ao identificar a oportunidade. “O interesse por tecnologia é enorme, mas nem toda família está estruturada para investir aqui, então o trabalho não é só achar o investimento, mas também estruturar os veículos e até mesmo educar as pessoas sobre todo o ecossistema do Vale e o próprio funcionamento da indústria de VC.”