O anúncio (discreto) do Nubank de que vai entrar no mercado de telecom pode ser um ‘game changer’ para o setor.

Esta é a visão da XP, que publicou agora à noite um relatório chamando o movimento de “um cisne roxo”.

O Nubank obteve na semana passada a aprovação da Anatel para operar como uma mobile virtual network operator (MVNO) usando a infraestrutura da Claro. A expectativa é que o serviço entre em operação no terceiro trimestre deste ano. 

O mercado de MVNO sempre teve dificuldade de ganhar tração no Brasil, já que tipicamente essas operadoras virtuais compram capacidade de dados no atacado e depois ficam sem margem para competir com as grandes telcos.

“Mas o Nubank parece ter conseguido subverter algumas lógicas desse mercado,” disse o analista Bernardo Guttmann, que escreveu o relatório. “E a mais relevante foi no modelo de contratação.”

David VélezSegundo Guttmann, em vez de comprar a capacidade no atacado e revender, o Nubank parece ter conseguido fechar com a Claro um contrato de revenue share.

“Além disso, este mercado sempre sofreu com custos de aquisição e de servir altos. E o Nubank é muito competitivo nessas duas frentes.”

Outra vantagem é que o Nubank não vai começar do zero. Nas contas da XP, o banco digital já tem uma participação de 22% no mercado de recargas de planos pré-pagos. 

“Isso, combinado com a obsessão com baixos custos de servir do Nubank, deve permitir que o banco faça ofertas atrativas,” diz o relatório. 

A XP estima que o Nubank possa chegar a 11 milhões de clientes pré-pagos e 7,5 milhões de clientes pós-pagos em 3 anos, um market share de 7% dos usuários de telefonia móvel. Nas contas da XP, isso geraria um NPV de US$ 650 milhões para o banco do cartão roxo. 

A investida do Nubank vem num momento em que o setor de telecom passa por uma calmaria depois da saída da Oi do mercado de telefonia móvel. 

“O setor, que sempre foi caracterizado por uma forte competição, se tornou mais racional. Como resultado, as empresas têm conseguido repassar preços e crescer acima da inflação,” escreveu Guttmann. 

“Muitos investidores nos perguntam o que poderia mudar esse cenário. As ISPs são uma ameaça real? Achamos que não. A resposta pode estar nesse movimento. A real ameaça competitiva pode vir do setor financeiro, com a entrada do Nubank como uma MVNO.”

O analista disse que, ainda que seja cedo para estimar  o potencial de impacto, ele pode ser significativo para a TIM e a Vivo, tanto em termos de market share como de redução do revenue pool do setor, com a entrada de um player mais agressivo em preços.

“Numa escala de ‘remoto, possível e provável’, achamos que é provável que algum nível de impacto vá ocorrer nos negócios de hoje.”

A XP projeta que a TIM seria a mais afetada por conta de sua relevância no segmento pré-pago e de sua base maior de clientes no segmento Controle. Já a Vivo pode estar mais protegida no segmento pós-pago por seus pacotes de serviços, que reduzem a propensão dos clientes a migrar de plano. 

O Nubank vale US$ 55,7 bilhões na Bolsa.