MIAMI — Tudo começou com um tuíte.
Quando Delian Asparouhov, do fundo de VC Founders Fund, sugeriu no Twitter que o Silicon Valley se mudasse de mala e cuia para Miami, o prefeito Francis Suarez tuitou de volta: “How can I help?”
A conversa viralizou e atraiu fundadores-celebridades e executivos do mundo tech como Jack Dorsey, do Twitter, Dave Portnoy, do Barstool Sports, e Keith Rabois, um dos fundadores do Founders Fund, que já se mudou para Miami e virou uma espécie de ‘cheerleader’ de Suarez na campanha para atrair talentos.
Marcelo Claure do SoftBank se juntou ao coro e anunciou um fundo de US$ 100 milhões para atrair startups para a cidade.
Da noite pro dia, Miami virou assunto nos chats e reuniões de empreendedores e VCs, Suarez se tornou o queridinho do momento e sua campanha #MoveToMiami explodiu.
Barry Sternlicht da Starwood Capital Group e Eddy Lampert do ESL Investments já haviam se mudado para a cidade, e a Blackstone anunciou um escritório de mais de 200 pessoas com foco em tech.
A ambição de Suarez mostra como as grandes cidades precisam lutar entre si para atrair os empregos e os impostos que vêm com as empresas de tecnologia — uma disputa agravada pelo redimensionamento das operações no mundo pós-covid.
O mais recente entusiasta de Miami: Elon Musk, que sugeriu ao prefeito túneis para aliviar o trânsito na cidade.
“Nós conversamos muito sobre a idéia de um túnel sob a Brickell, que no passado foi estimado em mais de US$ 1 bilhão, e ele disse ter uma idéia que custaria uns US$ 30 milhões,” Suarez disse logo após a conversa. “Temos uma oportunidade única para criar uma identidade realmente inovadora na cidade com esse projeto.”
Suarez diz que idéia de um Silicon Valley tropical, perto de Nova York e da América Latina, está cada vez mais atraente, principalmente depois que o home office virou rotina no mundo corporativo. O prefeito decidiu colocar Miami no mapa das novas tech hubs de uma vez por todas, promovendo o clima, os impostos baixos — a Flórida não cobra imposto de renda estadual — e o estilo de vida ‘cool.’
“Essa vista atrás de mim não é um background do Zoom. Miami é um lugar incrível com uma economia vibrante e um custo de vida que ainda é atraente,” Suarez disse ao Brazil Journal por videoconferência de seu escritório na prefeitura, um prédio dos anos 30 em Coconut Grove com vista para a Biscayne Bay.
Ele não perde uma oportunidade de promover Miami como a melhor opção para refugiados da Bay Area e nova-iorquinos infelizes buscando mais qualidade de vida. A rotina do prefeito inclui comentar dezenas de posts por dia, com mensagens simpáticas cheias de emojis.
Foi assim que o dono da Tesla entrou na vida de Suarez. Era pouco depois das 3 da manhã quando Suarez respondeu a um comentário de Musk sobre inovação em tecnologia de baterias para energias alternativas.
“@elonmusk eu não poderia estar mais de acordo…. Adoraria te receber na prefeitura de @CityofMiami para conversar sobre potenciais soluções para o nosso futuro,” escreveu.
Quarenta minutos depois, Musk respondeu com uma idéia: “Carros & caminhões parados no engarrafamento geram megatoneladas de gases tóxicos e partículas, mas túneis da @boringcompany passando por debaixo de Miami poderiam resolver o trânsito e seriam um exemplo para o mundo.”
O Twitter não perdoou e caiu em cima do excêntrico CEO da Tesla, que claramente desconhece a geologia de Miami: com um solo de calcário poroso e baixíssima elevação, a região não permite sequer garagens subterrâneas, que dirá túneis para transportar milhares de pessoas em veículos autônomos.
Suarez manteve a pose: “Precisamos ter a mente aberta e pensar de forma inovadora. Se ele quer vir para a minha cidade testar um túnel, ótimo.” De lá pra cá, Suarez já conversou com Steve Davis, o CEO da Boring Co, sobre soluções para o trânsito.
A fauna corporativa engajada com o prefeito inclui ainda os gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss — os supostos criadores da idéia original do Facebook — que conversaram com Suarez sobre blockchain e como fazer Miami ser competitiva nesse mercado.
Suarez também trocou tuítes com Anthony Pompliano, o “cripto influencer” da Morgan Creek Digital que se mudou recentemente para Miami. No mês passado, o prefeito propôs o bitcoin como moeda alternativa para pagar os funcionários municipais e coletar impostos — deixando a escolha na mão dos servidores e os contribuintes. A Câmara Municipal está estudando o assunto.
Apesar do hype, nem tudo são praias paradisíacas e simpatia na Magic City, como Miami é conhecida. A falta de um pool de talentos para atuar na área financeira e a baixa qualificação da mão de obra podem ser ‘deal breakers’ para quem está acostumado com o calibre dos profissionais da Bay Area ou Nova York. As escolas na Flórida estão abaixo da média nacional, e a infraestrutura de transporte e saúde também é fraca.
Suarez reconhece o problema e diz estar estimulando investimentos em programas de formação de profissionais. O prefeito também quer que todas as escolas primárias ensinem programação para crianças a partir de 6 anos.
Um outro empecilho que Suarez prometeu resolver: eliminar as cláusulas de ‘non-compete’, comuns na Flórida. Para isso, o prefeito terá que propor mudanças nas leis estaduais.
Por enquanto, é muito papo e poucos dólares: o volume de funding de VC efetivamente chegando até Miami ainda é pequeno.
Mas para John Stecher, o CTO da Blackstone, isso logo vai mudar. Segundo ele, startups e uma toda uma constelação de profissionais do mundo tech e do mercado financeiro estão analisando a cidade com um novo olhar, influenciado pelas mudanças impostas pela pandemia.
“Miami lidera no ranking de qualidade de vida; já existe um ecossistema robusto de universidades e um pipeline de talento que não fica muito atrás de outras cidades.”