A criadora do ChatGPT é a mais bem capitalizada startup de inteligência artificial – e deve bater US$ 100 bi de faturamento mais cedo do que todas as outras Big Techs – mas a expectativa de um bottom line positivo só em 2029 e uma série de ameaças à sua liderança colocarão à prova as expectativas dos investidores da OpenAI.
Em um relatório detalhado sobre a empresa, o JP Morgan disse que a dianteira em modelos de AI é uma “barreira de proteção (moat) cada vez mais frágil,” porque a “inabilidade de um único provedor sustentar uma vantagem competitiva” é um sinal de que poderá haver “comoditização” nesse mercado.
O sucesso do ChatGPT, o segundo aplicativo de adoção mais acelerada da história, é inquestionável. Desde seu lançamento, em novembro de 2022, o bot de AI conquistou mais de 800 milhões de usuários.
Mas a emergência de modelos mais cost-efficient – como o Gemini 2.5 do Google e o chinês DeepSeek – indicam um “ecossistema competitivo no qual a performance ponderada pelo preço” vem ganhando relevância, escreveram os analistas do banco.
No primeiro semestre, o faturamento da OpenAI subiu mais de 80% e superou US$ 10 bilhões. Cerca de 75% da receita vem de serviços pagos.
Projeções de bancos indicam que s a OpenAI poderá alcançar um faturamento de US$ 174 bilhões em 2030.
“Se ela for capaz de ultrapassar US$ 100 bi em 2029, apenas 14 anos após a sua fundação, será um feito superior a todas a Magnificent Seven – que, em média, precisaram de 22 anos para chegar a esse marco,” escreveram os analistas.
A Meta foi a que chegou mais cedo nos US$ 100 bi: precisou de 17 anos.
Com um valuation estimado em US$ 300 bilhões, tendo como base a rodada realizada em março, a OpenAI é a terceira empresa de capital fechado mais valiosa do mundo, e tem um market cap similar ao da Coca-Cola.
Entre as companhias não-listadas, ela fica atrás apenas da SpaceX (US$ 400 bi) e da ByteDance, a dona do TikTok (US$ 315 bi).
Conquistar o mercado corporativo é um foco estratégico da startup em seu plano de expansão, mas são clientes difíceis de fisgar em razão da competição e da demanda por modelos especializados e de menor custo.
Mas o JP Morgan vê boas chances de a OpenAI monetizar seus agentes de AI, conquistando um espaço nesse mercado em desenvolvimento.
O total de assinantes pagos já chegou a 3 milhões, e a empresa vem avaliando como monetizar seus serviços gratuitos por meio de anúncios.
O JP Morgan estima que o mercado endereçável total da companhia deve alcançar US$ 700 bilhões em 2030.
Para os analistas do banco, há um upside considerável para o ChatGPT no mercado de buscas na internet, tirando share do Google.
Além disso, a aquisição por US$ 6,5 bilhões da io Products, a startup do ex-designer da Apple Jony Ive, representa uma oportunidade enquanto as empresas incumbentes em hardware – como a Apple, não citada no relatório – ainda enfrentam dificuldades para desenvolver equipamentos para a próxima geração de recursos de AI.
Falando sobre as ameaças à frente, os analistas do JP Morgan citaram os riscos de disputa por talento e de litígios, além das “incertezas relacionadas à estrutura não-convencional” da OpenAI.
Fundada em 2015 em São Francisco, a OpenAI hoje tem 4.500 funcionários. O ChatGPT funciona em 57 línguas e é usado semanalmente por 500 milhões de pessoas em 188 países.
A OpenAI atraiu US$ 63 bi de funding desde sua criação, a maior parte nos últimos dois anos. Ao todo, a empresa tem mais de 100 investidores.
O relatório trata também das questões de segurança envolvendo a aplicação de inteligência artificial.
Em sua busca pela artificial general intelligence (AGI), a OpenAI lista três potenciais “fracassos” que merecem atenção, disse o JP Morgan: mau uso pelos humanos (violando leis e valores democráticos); não-alinhamento da AI (desrespeitando valores humanos, instruções e objetivos); e disrupção social (causando mudanças bruscas, como aumento da desigualdade).
E não se pode esquecer do impacto no mercado de trabalho. Recentemente, Dario Amodei, o fundador da Anthropic, disse que a AI poderá eliminar metade das funções de entrada dos trabalhadores white collar, com a taxa de desemprego podendo subir para até 20% nos próximos anos.
Nos EUA, uma taxa tão elevada só ocorreu na Grande Depressão.