A TotalEnergies — a multinacional francesa mais conhecida por sua atuação no petróleo — acaba de comprar 34% de uma nova joint venture que vai reunir os ativos já operacionais de geração eólica da Casa dos Ventos, bem como projetos em fase avançada de desenvolvimento.

A transação avaliou essa JV num enterprise value de R$ 12,6 bilhões, o que significa um desembolso de R$ 4,2 bilhões por parte da Total.

Desse montante, R$ 3 bilhões serão pagos em dinheiro e o restante em assunção de dívidas.

LUCAS ARARIPEAs negociações entre as duas empresas estão se desenrolando há quase um ano, com o CEO global da Total, Patrick Pouyanné, vindo ao Brasil diversas vezes para negociar a transação. 

Para a francesa, o investimento faz parte de sua estratégia global de descarbonização, com foco em energias renováveis.

A Total é uma das grandes petroleiras com planos mais ambiciosos para esse mercado. A companhia tem dito ao mercado que pretende chegar a uma capacidade de 100 GW de geração de energia renovável já em 2030. 

A transação dará à JV acesso a um custo de capital mais baixo — algo fundamental num mercado onde 70% do capex de um parque é tipicamente financiado com dívida. 

“Temos as melhores áreas de vento, a equipe mais qualificada, mas nosso custo de capital hoje é maior que o dos nossos concorrentes,” Lucas Araripe, o diretor de novos negócios e filho do fundador, disse ao Brazil Journal. “Com a transação, vamos passar a poder emitir debêntures com risco Total.”

Segundo ele, a entrada da francesa também pode gerar economias de escala na compra das turbinas eólicas, dar acesso a novos clientes (na compra de energia), bem como agregar know how em hidrogênio verde e amônia, tecnologias que a Casa dos Ventos pretende entrar. 

A JV engloba um portfólio de quatro complexos eólicos da Casa dos Ventos que somam 1,7 GW de capacidade. Desse total, 700 MW já estão operacionais, 800 MW vão entrar em operação em seis meses, e outros 200 MW entram em operação em 2024. 

A Casa dos Ventos também colocou dentro da JV um pipeline de 4,5 GW de projetos que devem entrar em desenvolvimento em breve. “São projetos já bem avançados,” disse Lucas. “Um terço dessa capacidade já estamos comprando as máquinas. O restante já fizemos pedido de autarquia incentivada, para aproveitar a desoneração na tarifa de transmissão, e estamos esperando a concessão.”

A Casa dos Ventos ainda ficou com um pipeline de 20 GW de projetos de geração que não foram incluídos na JV, e que tem potencial para gerar mais R$ 5 bi em valor para a companhia.

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Fundada em 2008, a Casa dos Ventos nasceu da cabeça de Mário Araripe.

Em 2007, o cearense vendeu a marca de carros Troller para a Ford por R$ 400 milhões e usou a liquidez para investir no mercado de geração de energia eólica, tornando-se um dos pioneiros desse mercado no Brasil. 

Mário percebeu o potencial dessa energia no Brasil, onde o vento é abundante, e começou uma campanha exploratória para descobrir as melhores áreas de vento — com o maior fator de capacidade e retorno potencial. 

No começo, a companhia apenas originava e preparava os projetos e depois vendia para players do setor operarem os parques. Foi só em 2014, que ela começou a operar de fato os parques depois de ganhar um leilão de 1,1 GW que resultou na construção de cinco parques. 

Esses cinco parques posteriormente foram vendidos para players como a Actis, Votorantim/CPPIB e Cubico. Com os recursos da venda, a Casa dos Ventos voltou a investir em novos projetos, mas dessa vez focando no mercado livre de energia.

“O que fazemos é viabilizar projetos em parceria com grandes empresas que querem limpar sua matriz energética,” disse Lucas. 

O primeiro desses projetos foi feito com a Vale, na Bahia, e entrou em operação em 2020. Na sequência, a Casa dos Ventos lançou o Complexo Rio do Vento, que vende energia para empresas como Braskem, Anglo American e Tivit. 

No ano que vem, vai começar a operar o Babilônia Sul, que atende companhias como Unigel e ADM; e, em 2024, o Umari, que ainda está negociando os contratos de venda. 

O BTG Pactual assessorou a Casa dos Ventos. A Total não teve assessor financeiro.