A Dasa fez um acordo com o Ministério da Saúde para processar 3 milhões de testes de PCR para covid-19 nos próximos 180 dias (ou 30 mil por dia).

A parceria é o maior esforço já realizado para aumentar a capacidade de testagem no Brasil, e envolve uma doação significativa por parte da Dasa, a maior empresa de diagnósticos do Brasil, dona de marcas como Alta, Delboni, Lavoisier e Salomão Zoppi. 

A iniciativa vai triplicar imediatamente a capacidade de testagem do sistema público brasileiro e, se o Governo Federal conseguir mais equipamentos e reagentes, pode ampliar a capacidade de processamento para até 50 mil testes por dia, ou 10 milhões de testes em seis meses.

O novo laboratório — que será chamado de Centro de Diagnóstico Emergencial e está sendo construído em Alphaville, um subúrbio de São Paulo — receberá os equipamentos de testagem em comodato do sistema público. A Dasa está bancando as obras para adequar a infraestrutura e vai aportar expertise e mão de obra. 

Entre 100 e 120 profissionais da empresa serão alocados ao laboratório, que pode se tornar o embrião de um Centers for Disease Control brasileiro, o centro de excelência de pesquisa para doenças infecciosas que produz a pesquisa e inteligência usadas pelo Governo americano.

Para se ter uma ideia da dimensão do projeto, o laboratório em Alphaville terá capacidade 10 vezes maior que o laboratório que a Dasa usa hoje para fazer os testes da covid-19. 

Os testes de PCR, que detectam partículas do vírus, vão priorizar pacientes com sintomas leves e as amostras virão exclusivamente do Sistema Único de Saúde.

Mas apesar de sua robustez e do avanço que ela significa, a parceria também mostra como o Brasil — como muitos países — foi pego despreparado para a envergadura da crise sanitária.

Relatos de pessoas envolvidas no esforço governamental mostram um Ministério da Saúde trabalhando no limite de sua capacidade para suprir lacunas diversas e contando com a solidariedade — muitas vezes emocionante — do setor privado. 

A parceria começou um mês atrás quando o Ministério da Saúde, ainda na gestão Luiz Henrique Mandetta, reuniu os laboratórios para anunciar o objetivo de atingir 46 milhões de testes nos próximos seis meses, entre PCRs e testes sorológicos, que detectam a resposta imune do organismo contra o vírus.  “Precisamos da sua ajuda,” o então ministro disse aos executivos de laboratórios.

Os executivos então explicaram ao Ministro as limitações que o País enfrenta:  faltam reagentes químicos, e as máquinas de processamento precisariam também ser importadas sem o ônus da burocracia federal. (As reuniões frequentemente eram interrompidas por ligações para o ministro; eram empresas e entidades oferecendo todo tipo de ajuda).

Mandetta deixou claro — em privado e nas entrevistas à imprensa — que as empresas que topassem colaborar com o Governo não poderiam ter “um centavo de lucro” e que queria tudo “a preço de custo.”

De posse da lista de suprimentos em falta, a partir dali o Ministério começou a envidar esforços de importação, usando a musculatura de empresas como a Vale, que disponibilizou navios, e da Força Aérea Brasileira, que colocou seus aviões de prontidão.  

Ao assumir o cargo na semana passada, um dos primeiros atos do Ministro Nelson Teich foi finalizar as negociações iniciadas por seu antecessor, e ontem mesmo o Diário Oficial da União publicou o resultado do chamamento: a Dasa foi a única rede de laboratórios a aceitar a parceria com o Governo.

Agora, o Ministério está na reta final de outro chamamento para viabilizar a coleta das amostras — os pontos físicos que receberão os pacientes para fazer os testes. O prazo de propostas se esgota amanhã.

Só um esforço conjunto dos três maiores laboratórios — Dasa, Hermes Pardini e Diagnósticos do Brasil — poderá garantir que o Brasil tenha capilaridade na coleta dos testes.  Juntas, as três empresas estão presentes em 70% dos municípios brasileiros.

Atualmente, apenas 8% a 10% dos pacientes com sintomas leves de covid-19 são testados no Brasil — o que impossibilita uma noção clara dos padrões de contágio.
 
O teste de PCR para covid-19 não é simples como um exame de urina. Trata-se de um teste complexo, de biologia molecular, em que o vírus é dividido e suas partes, estudadas.

Numa decisão de negócios que ilustra o momento dramático da crise sanitária e sua imposição moral sobre as empresas, a Dasa parou de fazer exames lucrativos, como sexagem fetal e testes de paternidade, e redirecionou todas as suas máquinas para os testes de covid.

Nos bastidores, a Dasa também usou sua musculatura como a maior empresa do setor para pressionar fornecedores de reagentes nos EUA e Europa a fornecer para o Brasil, com resultados mistos.

“Estamos fazendo tudo que podemos e não estamos medindo esforços, mas precisamos da ajuda de todo o setor para ajudarmos o Governo a atravessar essa crise,” disse Emerson Gasparetto, o vice-presidente médico da Dasa.