Primeiro vieram os boicotes contra os carros da Tesla, com direito a pichações por ativistas e vandalismo nas lojas da marca em razão da atuação política de Elon Musk e seu alinhamento a radicais da extrema direita.
Com a queda de 15% hoje, a fabricante de carros elétricos já perdeu mais da metade de seu valor nos últimos 80 dias.
A ação atingiu sua máxima histórica de US$ 480 em 17 de dezembro. Agora o preço de tela está em US$ 222 – e o market cap da companhia derreteu mais de US$ 700 bilhões, para US$ 696 bi.
Agora é a vez da Starlink, a rede de internet por satélites de Musk, que está vendo seu negócio ser ameaçado.
O primeiro-ministro de Ontário já anunciou que encerrará os contratos com a empresa, uma retaliação às tarifas de Trump contra os canadenses. A empresa pode perder ainda negócios com os governos da Polônia e da Itália.
Entre os líderes políticos da Europa Ocidental, provavelmente não há maior admiradora de Musk do que a premiê italiana Giorgia Meloni – e a evidente química entre ambos já rendeu até especulações de uma ‘relação romântica.’
Mas o negócio da Itália com a Starlink poderá não ir adiante graças ao posicionamento de Musk contra a Ucrânia e seus repetidos ataques contra a OTAN (ele defende que os EUA deixem a organização militar dos aliados do Atlântico Norte).
Os italianos vinham analisando a possibilidade de fechar um contrato de cinco anos, estimado em US$ 1,5 bilhão, para utilizar a Starlink como principal meio de comunicação de seus diplomatas, servidores e militares atuando no exterior. A razão seria a maior segurança no compartilhamento de dados.
Meloni joga ao lado de Trump e de Musk em muitos temas – mas quando o assunto é Putin, Ucrânia e OTAN, a italiana não cruza a linha.
O negócio agora enfrenta obstáculos políticos, ainda mais depois de Musk ter usado o X para acusar o presidente Italiano, Sergio Mattarella, de ser o principal opositor do contrato.
A Polônia também está reavaliando se mantém os serviços da Starlink. São os poloneses que bancam a maioria dos terminais em operação na Ucrânia.
A empresa, que não tem capital aberto, é a que mais cresce na constelação de negócios de Musk, que inclui ainda a SpaceX e o X.
Os europeus já buscam alternativas para substituir a Starlink – e uma estrela em ascensão é a Eutelsat, uma concorrente franco-britânica.
As ações da Eutelsat, que vinham andando de lado meses a fio, foram às alturas depois da catastrófica reunião entre Trump e Zelenski no Salão Oval.
A companhia deverá ser uma das principais beneficiadas pelo plano da União Europeia de reforçar em € 800 bilhões seus investimentos de defesa.
As ações da empresa, que tem entre seus acionistas os governos da França e do Reino Unido, explodiram 390% na última semana.
“Todo mundo está nos perguntando se podemos substituir a Starlink na Ucrânia”, disse à Bloomberg a CEO da Eutelsat, a dinamarquesa Eva Berneke. “Estamos avaliando essa possibilidade.”
A executiva afirmou que está em conversas com fornecedores para instalar 40.000 terminais na Ucrânia dentro de dois meses.
Atualmente há 42.000 terminais da Starlink na Ucrânia, e eles prestam um serviço essencial para as comunicações estratégicas dos militares e também dos serviços médicos e de logística.
As perdas sucessivas de contratos podem representar o início do fim do envolvimento de Musk com a política, disse Scott Galloway, o celebrado professor de marketing da Stern School of Business.
“A espinha de Musk deve ter gelado. A Starlink era o seu veículo de crescimento. Isso poderá tirá-lo da política,” Galloway disse no Instagram.
O valuation da companhia é estimado entre US$ 300 bilhões e US$ 350 bilhões. “Esses números vão cair. Os concorrentes da Starlink não terão dificuldades para levantar toneladas de dinheiro neste momento,” disse Galloway.
Em outro golpe aos negócios de Musk, o X foi alvo hoje de um grande ataque cibernético que deixou a rede social instável.
“Somos atacados todos os dias, mas este ataque foi feito com muitos recursos,” tuitou Musk. “Ou foi um grupo grande e coordenado, ou foi um país.”
O empresário disse que os IPs envolvidos no ataque seriam da Ucrânia – mas mesmo que esse seja o caso, é possível mascarar a real localização dos servidores usados. É difícil saber a origem exata.
O ataque foi reivindicado por um grupo chamado Dark Storm Team, que defende causas pró-Palestina e já realizou ações contra sites de Israel e de países da OTAN.