Dois ex-sócios da Atmos Capital, David Kaddoum e Gabriel Saavedra, estão criando uma nova gestora de ações com um círculo de competência mais restrito.

A tese: o Brasil é um lugar ruim para se investir em empresas de tecnologia e vanguarda, dada a nossa falta sistêmica de capital humano e de aparatos institucionais que estimulem a inovação. 

As grandes vocações naturais do Brasil estão nos setores de utilities e infraestrutura — em grande parte pelo tamanho do mercado e uma regulação já madura, mas que ainda garante spreads significativos em relação ao custo de capital.  

A nova gestora, batizada de TB Capital, pretende expressar essa visão com um portfólio alocado meio a meio no Brasil (majoritariamente em empresas de utilities, infraestrutura, saúde e do setor financeiro) e em companhias de tech, principalmente dos Estados Unidos. Toda exposição em moeda estrangeira será hedgeada para reais.

A gestora também poderá ter até 30% do portfólio em caixa ou instrumentos líquidos de crédito, entre Selic, NTN-Bs e bonds

O nome da gestora dialoga com essa composição de portfólio. 

TB são as iniciais de “Three-Body Problem”, primeiro livro de uma trilogia de ficção científica escrita pelo autor chinês Liu Cixin que referencia um problema antigo da física, descrito por Newton, no qual três corpos gravitacionais idênticos encontram-se frequentemente fora de equilíbrio. 

No caso da TB, os três corpos são a alocação em utilities no Brasil, em tech no exterior e na renda fixa.  O objetivo dos fundadores é buscar o melhor equilíbrio dinâmico possível entre esses ativos em qualquer momento. 

Numa conversa com o Brazil Journal, os dois sócios disseram não ver sentido em investir em empresas de setores que não tem vantagens no Brasil. 

“Investir num negócio que não tem aumento de lucro, só porque o múltiplo está baixo, vira especulação,” David disse ao Brazil Journal. “Você está investindo basicamente num re-rating e em negócios sujeitos a disrupção.”

A TB acredita que o ciclo de disrupção dos negócios será muito perverso para as empresas brasileiras que atuam em setores consumer-centric, como o varejo. 

“Infelizmente, os pockets de geração de riqueza no mundo não estão surgindo nos países em desenvolvimento, como o Brasil,” disse Gabriel. “A verdade é que quando essas grandes empresas de tecnologia virarem seus canhões para esses mercados, elas vão destruir muitas empresas locais.”

A TB Capital está começando a captar seu primeiro fundo, e a ideia é levantar entre R$ 700 milhões e R$ 1 bilhão. O hard cap do fundo é de R$ 2 bilhões. 

A Atmos está entrando como sócia minoritária da gestora, e todos os seus sócios estão investindo no fundo por meio de um veículo comum. 

A TB Capital também está inovando na forma de cobrar performance.

A gestora vai cobrar 1,5% de taxa de administração e 20% do que superar o IMA-B, o índice que mede o desempenho de títulos públicos indexados à inflação. Mas, diferente da maior parte da indústria, a performance só será cobrada a cada três anos.

“Isso ajuda a gerar um alinhamento no longo prazo, que é algo fundamental para o sucesso de uma gestora,” disse Gabriel.

Para criar esse alinhamento, os general partners também estão investindo capital próprio no fundo, e a partnership vai incluir todos os colaboradores no quadro societário. 

Além de David e Gabriel, que eram sócios minoritários e faziam parte da equipe de análise da Atmos, a TB Capital vai começar com outras três pessoas na equipe de investimentos: Thomaz Fraga, que também está vindo da Atmos; Jayme Gurivitz, que trabalhou os últimos anos na Sagitta, o family office de Renato Bronfman, um dos fundadores do Pactual; e Benjamin Ruiz-Tagle, que passou seis anos na SPX e na Velt Partners. 

Veja a apresentação da TB Capital, com a tese da gestora, neste link.