Os sócios da Tarpon Investimentos anunciaram uma oferta pública para deslistar a gestora, bem como planos para transformá-la numa casa de capital proprietário com um interesse particular na nova economia.
O anúncio vem depois que a debacle no investimento na BRF — onde a Tarpon chegou a ter mais de 60% de seu portfólio — causou resgates em massa e danificou sua franquia, comprimindo o valor de mercado da gestora a um décimo do que valeu em seu auge. No fechamento de hoje, a companhia tinha um valor de mercado de R$ 98 milhões.
Os controladores da Tarpon pretendem ofertar R$ 2,25 por ação da companhia, que fechou hoje a R$ 2,15. Este valor inclui um dividendo intermediário equivalente a cerca de 50% do valor de mercado da empresa; e uma redução de capital (de cerca de R$ 0,80 por ação) sujeita à aprovação da OPA pelos acionistas minoritários. A companhia espera concluir o processo até março.
Além disso, a gestora está negociando com seus investidores nos fundos que têm ações da BRF um resgate antecipado, que a Tarpon honraria distribuindo as ações da BRF diretamente. Hoje, a gestora administra R$ 500 milhões em ações da companhia dona das marcas Sadia e Perdigão. “Ao longo do primeiro trimestre, a gente pretende antecipar todos os resgates dos próximos três anos,” disse o fundador da Tarpon, José Carlos Reis de Magalhães, o Zeca.
Enquanto isso, vai começar a testar as águas investindo em empresas de tecnologia.
“Vamos investir em coisas novas, porque hoje é mais fácil o novo tomar o lugar do velho do que transformar o velho em novo,” disse, citando uma lição que aprendeu na BRF. “Estamos olhando 20 empresas, e as 20 são da nova economia.”
Num modelo parecido com o dos ‘Tiger Cubs’ — gestoras criadas por ex-funcionários do fundador da Tiger, Julian Robertson — Zeca disse que os novos investimentos serão feitos por outras gestoras menores, nas quais a Tarpon terá uma participação minoritária em troca de fornecer acesso a sua rede de contatos, infraestrutura e rateio de custos. “Vamos aproveitar o ecossistema de pessoas que já foram ou são da rede de relacionamentos da Tarpon.”
Na nova Tarpon, Zeca continuará como o chief investment officer, encarregado principalmente de Omega e das posições em Bolsa. Marcelo Lima se tornará o CEO, cuidando de pessoas, investidores e novos negócios; e Alexandre Suguita continuará cuidando das operações. Eduardo Mufarej continuará como investidor; ele já não está envolvido no dia a dia desde o ano passado, quando fundou o RenovaBR, o movimento de renovação política que elegeu 17 candidatos este ano. Pedro Faria, o ex-CEO da BRF, deve abrir uma das gestoras nas quais a Tarpon será sócia.
Aos 40 anos, Zeca — que começou a investir em Bolsa aos 16 anos e fundou a Tarpon aos 23, com o capital de friends & family — vai tentar um novo começo. O Brazil Journal lhe perguntou sobre as lições aprendidas na BRF — e se a concentração do portfólio em uma única aposta não teria sido seu maior erro.