Os sócios da Tarpon Investimentos anunciaram uma oferta pública para deslistar a gestora, bem como planos para transformá-la numa casa de capital proprietário com um interesse particular na nova economia.

O anúncio vem depois que a debacle no investimento na BRF — onde a Tarpon chegou a ter mais de 60% de seu portfólio — causou resgates em massa e danificou sua franquia, comprimindo o valor de mercado da gestora a um décimo do que valeu em seu auge. No fechamento de hoje, a companhia tinha um valor de mercado de R$ 98 milhões.

A Tarpon administra R$ 3,84 bilhões, mas 77% (R$ 2,98 bilhões) já estão vinculados a resgates que serão pagos nos próximos anos.  Do capital que ficará na empresa, 73% pertencem aos sócios.

Os controladores da Tarpon pretendem ofertar R$ 2,25 por ação da companhia, que fechou hoje a R$ 2,15. Este valor inclui um dividendo intermediário equivalente a cerca de 50% do valor de mercado da empresa; e uma redução de capital (de cerca de R$ 0,80 por ação) sujeita à aprovação da OPA pelos acionistas minoritários.  A companhia espera concluir o processo até março.

 
10175 f7699e75 f908 00ce 0000 f368ea6e4568Para chegar ao dividendo intermediário, os sócios reduziram o bônus a que teriam direito pela venda da Somos Educação de 35% da performance fee para 16%. (O valor referente aos 35% já havia sido provisionado e anunciado ao mercado).
Com os resgates sofridos por conta da BRF, a Tarpon foi forçada a reestruturar sua base de investidores, e está aproveitando a oportunidade para restruturar também sua estrutura, time e foco.
No Fato Relevante, a companhia diz que é melhor fazer todas essas reformulações num contexto de capital fechado, já que a restruturação deve ser longa e consumirá muito caixa.
 
Hoje, o maior investimento da Tarpon é a Omega, onde os sócios e investidores da Tarpon têm cerca de R$ 2 bilhões numa estrutura que os obriga a permanecer investidos pelo menos até 2022.  A Tarpon tem 57% da Omega Geração e 100% da Omega Desenvolvimento.

Além disso, a gestora está negociando com seus investidores nos fundos que têm ações da BRF um resgate antecipado, que a Tarpon honraria distribuindo as ações da BRF diretamente.  Hoje, a gestora administra R$ 500 milhões em ações da companhia dona das marcas Sadia e Perdigão.  “Ao longo do primeiro trimestre, a gente pretende antecipar todos os resgates dos próximos três anos,” disse o fundador da Tarpon, José Carlos Reis de Magalhães, o Zeca.

 
Depois de passar os últimos anos monitorando um portfólio concentrado em quatro empresas — Cremer, Somos, BRF e Omega — na nova fase a Tarpon terá uma vida mais simples:  continuará apenas na gestão da Omega e de um portfólio de R$ 500 milhões em ações líquidas.

Enquanto isso, vai começar a testar as águas investindo em empresas de tecnologia.

“Vamos investir em coisas novas, porque hoje é mais fácil o novo tomar o lugar do velho do que transformar o velho em novo,” disse, citando uma lição que aprendeu na BRF.  “Estamos olhando 20 empresas, e as 20 são da nova economia.”

Num modelo parecido com o dos ‘Tiger Cubs’ — gestoras criadas por ex-funcionários do fundador da Tiger, Julian Robertson — Zeca disse que os novos investimentos serão feitos por outras gestoras menores, nas quais a Tarpon terá uma participação minoritária em troca de fornecer acesso a sua rede de contatos, infraestrutura e rateio de custos.  “Vamos aproveitar o ecossistema de pessoas que já foram ou são da rede de relacionamentos da Tarpon.”

Ele disse que os investimentos serão feitos “de forma experimental” dado que a Tarpon não é especialista em tecnologia, e que os sócios não necessariamente estarão envolvidos na gestão das investidas.  “Às vezes você acaba atrapalhando em vez de ajudar.” 

Na nova Tarpon, Zeca continuará como o chief investment officer, encarregado principalmente de Omega e das posições em Bolsa. Marcelo Lima se tornará o CEO, cuidando de pessoas, investidores e novos negócios; e Alexandre Suguita continuará cuidando das operações. Eduardo Mufarej continuará como investidor; ele já não está envolvido no dia a dia desde o ano passado, quando fundou o RenovaBR, o movimento de renovação política que elegeu 17 candidatos este ano. Pedro Faria, o ex-CEO da BRF, deve abrir uma das gestoras nas quais a Tarpon será sócia.

Aos 40 anos, Zeca — que começou a investir em Bolsa aos 16 anos e fundou a Tarpon aos 23, com o capital de friends & family — vai tentar um novo começo. O Brazil Journal lhe perguntou sobre as lições aprendidas na BRF — e se a concentração do portfólio em uma única aposta não teria sido seu maior erro.

 
“Foram 332 lições aprendidas, e pode acreditar que nós fomos bem fundo em cada uma delas. Mas mais do que a concentração em si, o problema foi concentrar numa empresa em que você não tem o controle — é um ‘double hit’.  O que eu vi no mundo atual, até mesmo na experiência do Renova, é que é mais promissor pegar o novo para substituir o velho do que transformar o velho em novo.”