A Tempo Capital está questionando a CVM sobre alguns termos da transação pela qual a Suzano comprou a Fibria.

Numa reclamação protocolada em 7 de junho, a Tempo, que é acionista da Fibria, diz que a estrutura da oferta vai forçar a gestora a vender sua participação na Fibria, quando esta decisão deveria ser discricionária.

No documento de 26 páginas, os advogados da Tempo sustentam que a operação criou um ‘drag along’ (uma obrigação de venda) que não existe nem no acordo de acionistas, nem no estatuto, nem na lei.

Para a Tempo, um takeover tradicional seria estruturado como uma operação de compra e venda seguida de uma incorporação de ações.  Na oferta de compra e venda, o minoritário da Fibria poderia escolher aderir ou não.

Mas para evitar que o minoritário tivesse escolha, a operação proposta pela Suzano foi mais criativa:  primeiro, criou-se uma nova holding na qual a Suzano aportou o caixa ofertado aos acionistas da Fibria. (O caixa constituía 80% do valor da oferta; os outros 20% eram ações da própria Suzano.)

Em seguida, os termos da operação determinam que a Fibria seja incorporada nesta holding, de forma que o acionista da Fibria passa a ter ações ON e PN da holding.

Na etapa final, a holding usa o caixa que a Suzano aportou para resgatar as PNs e, desta forma, pagar aos acionistas da Fibria sua parte em cash.

O advogado Raphael Martins, que representa a Tempo, diz que esta estrutura equivale a uma ‘fraude’, pois “é uma operação sem nenhuma finalidade econômica a não ser retirar do acionista a opção de não aderir à oferta.”  

No documento, ele diz que o uso da palavra fraude “não significa que os atos que estão sendo praticados sejam ‘formalmente’ ilegais. Muito pelo contrário … não existe qualquer ilegalidade formal na capitalização da Holding, na incorporação de ações da Fibria na Holding, no resgate das ações preferenciais da Holding e na incorporação da Holding pela Suzano. O que existe é uma finalidade oculta e diversa daquela que seria típica destes atos.”

A Fibria contratou o advogado Nelson Eizirik e já respondeu à CVM.  Seu principal argumento é o de que a mesma estrutura já foi usada anteriormente, e cita os casos da fusão da antiga BM&F com a Bovespa (que gerou a B3), e a compra da Bematech pela Totvs.

A reclamação da Tempo tornou-se pública nos últimos dias, depois que um investidor requisitou à CVM acesso ao documento.  A reclamação circulou hoje entre diversas mesas do mercado, e turbinou o volume negociado para mais de R$ 450 milhões, três vezes a média dos últimos 20 dias.

Desde que a Tempo entrou com a reclamação, o short interest em Suzano — o número de ações alugadas — subiu 30% de 17,5 milhões em 7 de junho para 22,7 milhões de ações ontem.

A Tempo diz que sua reclamação não inclui “a análise ou contestação de mérito do preço negociado” entre os controladores da Fibria e os da Suzano.

Alguns acionistas minoritários de Fibria têm resmungado sobre os termos da oferta, alegando que a razão de troca ficou desfavorável a eles depois que o dólar mudou de patamar. 

 
Desde que a operação foi anunciada em 16 de março, o dólar subiu 22,8%, de R$ 3,12 para R$ 3,83, e, como a oferta foi feita num combo de reais (CDI) e ações da Suzano, os acionistas de Fibria não capturaram a alta do dólar nos últimos meses.  A fusão foi assinada pelos controladores de ambos os lados em caráter irrevogável e irretratável.

Um minoritário de Suzano retruca:  “Se a Suzano ‘comprou bem’ porque o dólar andou, não há nada que a Fibria possa fazer.  Se tivesse acontecido o contrário, a Fibria ia nos devolver dinheiro?”