A Suzano fechou a compra de 70 mil hectares de terras que pertenciam a fundos do BTG, investindo R$ 1,83 bilhão para aumentar a autossuficiência de sua operação numa região que tem sinergias geográficas com sua estrutura atual.

Dos 70 mil hectares, 50 mil são de áreas produtivas. O restante são reservas ambientais que não podem ser tocadas.  

As terras ficam no Mato Grosso do Sul, próximas à fábrica de celulose que a Suzano tem em Três Lagoas e à fábrica que a companhia está terminando de construir em Ribas do Rio Pardo, que faz parte do Projeto Cerrado e deve ficar pronta em junho de 2024.

O CFO Marcelo Bacci disse ao Brazil Journal que a transação aumenta o nível de autossuficiência das operações do Mato Grosso do Sul no curto prazo, mas, ainda mais importante, “abre uma opcionalidade de crescimento para o futuro.”

“Vamos atingir um nível bastante alto de madeira própria nos próximos anos, que é superior ao que pretendemos ter na região, o que abre a possibilidade de construirmos uma nova fábrica lá ou de expandirmos a capacidade das duas fábricas atuais,” disse o executivo.  

A fábrica de Três Lagoas tem uma capacidade produtiva de 3,25 milhões de toneladas por ano. A de Ribas do Rio Pardo terá capacidade de 2,5 milhões de toneladas/ano.

A Suzano não divulgou a quantidade de madeira que está sendo adquirida, tampouco o percentual das terras produtivas que já estão plantadas. Marcelo disse apenas que os 50 mil hectares estão “parcialmente plantados”.

O breakdown do valor pago pelas terras e pela madeira também não foi revelado, mas o Itaú BBA estima que a Suzano tenha pago algo entre R$ 25 mil a R$ 30 mil por hectare, considerando que entre 20% e 30% do valor da transação seja relativo à madeira já existente.

Para o Itaú, esse valor “parece decente” para a região.

O CFO disse que a transação deve ter um impacto praticamente nulo para a alavancagem da Suzano, gerando um aumento de menos de 0,1x na relação dívida líquida/EBITDA da companhia, que terminou o terceiro trimestre em 2,6x. 

Como o desembolso da transação só deve acontecer no ano que vem, a Suzano elevou seu capex projetado para 2024 por conta da operação, subindo de R$ 14,6 bilhões para R$ 16,5 bilhões.

O Itaú disse que a transação é positiva e a chamou de um “movimento defensivo, considerando o valor difícil de replicar de florestas bem localizadas para a sustentabilidade da Suzano no longo prazo.”

“Estimamos que os 50 mil hectares de áreas produtivas podem representar de 20% a 25% da terra necessária para a construção de uma nova fábrica de 2 milhões de toneladas de capacidade na região,” escreveu o analista Daniel Sasson. 

Ele notou ainda que a floresta é próxima das operações da Suzano no estado, o que deve ajudar a reduzir a distância média de transporte — o chamado ‘farm-to-mill radius.’

O guidance atual da Suzano é de uma distância média de 201 km em 2023, 186 km em 2024-2025, 173 km entre 2026-2028 e 150 km entre 2029 e 2032. 

As terras foram compradas de dois fundos do BTG Pactual Timberland Investment Group, a gestora do banco focada em ativos florestais que tem US$ 5,6 bilhões em ativos sob gestão. As negociações entre as duas partes se desenrolam há cerca de seis meses.