Stephen Hood já trabalhou em bonds para a Odebrecht, fez o IPO da Ultrapar e ajudou a Petrobras a comprar a Perez Companc no meio da crise argentina.
Agora, depois de uma vida entre o Clifford Chance e o Davis Polk, um dos principais advogados internacionais atuando no Brasil está botando seu nome na placa.
Stephen acaba de abrir o Stephen Hood & Partners, com foco em empréstimos sindicalizados, project finance e M&A em toda a América Latina.
A expectativa é de que metade da receita venha do Brasil. O resto, da América Latina.
“O jogo da infraestrutura ainda não começou no Brasil,” Stephen disse ao Brazil Journal. “O País ainda não gerou nem uma fração do trabalho que antecipamos. Hoje, a maioria dos nossos projetos está no Peru, mas com os desinvestimentos da Petrobras, a nova lei do gás e os leilões de infraestrutura, acho que isso vai mudar.”
A banca já obteve registro junto à OAB-SP com autorização para advogar nas leis de Nova York e da Inglaterra.
Stephen trouxe para a sociedade Rebecca Roman, de quem foi “um mentor muito generoso” ao longo de sete anos no Davis Polk, nas palavras da própria Rebecca.
A aposta dos dois é de que existe demanda por uma firma em que o cliente é atendido pelos sócios — uma alternativa aos grandes escritórios internacionais, que carregam o alto custo de estruturas em Nova York e Londres.
Sócio do Clifford Chance por mais de 25 anos, Stephen abriu a filial de Hong Kong no início dos anos 80, quando a China estava acordando.
Participou do primeiro project finance do país: uma termelétrica a carvão em Shenzhen que estava sendo feita por Gordon Wu, um tycoon imobiliário de Hong Kong, com offtake garantido pelo CITIC, o megaconglomerado chinês.
Na volta a Londres, abriu a prática de mercado de capitais do Clifford Chance, então mais conhecido pela assessoria a bancos.
No início dos anos 90, mais um carimbo no passaporte: foi despachado para comandar o escritório em Nova York. Com a economia estabilizada — obrigado, FHC! — e as privatizações acontecendo, as empresas brasileiras cada vez mais acessavam o mercado de capitais internacional. Logo, o Brasil respondia por 35% a 40% da receita do escritório de Nova York, que tinha clientes como Odebrecht, Ultrapar, Eletrobras e CCR, todos emitindo Eurobonds.
Anos depois, quando decidiu ter presença física em São Paulo, os mandachuvas do Clifford Chance bateram na porta do sócio mais acostumado a abrir filiais: “Would you do one more?”
Ele abriu e ficou até 2011, quando decidiu se mudar para o Davis Polk em São Paulo. “A cultura no Clifford já não era mesma,” diz.
O envolvimento de Stephen com o Brasil não está limitado à esposa Viviane, nem aos contratos que prepara para os clientes.
Em 2005, o inglês nascido na Austrália experimentou o espumante da Cave Geisse, a vinícola de Mario Geisse em Pinto Bandeira, distrito de Bento Gonçalves.
Pediu, provou, gostou.
“Isso é melhor do que a maioria das champagnes industrializadas que eu conheço,” pensou. “Preciso descobrir de onde vem.”
Entrou em contato com os Geisse e, pouco tempo anos, comprou 36 hectares adjacentes à vinícola. A terra estava uma bagunça. “Eram uvas comuns, pessegueiros antigos, não produtivos, uvas terríveis,” relembra o advogado, que passou os últimos anos replantando a terra com Chardonnay e Pinot Noir.
A amizade com Mario Geisse floresceu, e três anos depois Stephen comprou os 17% da vinícola que pertenciam a um primo de Nicolas Catena, um investidor que havia ajudado Mario a começar o negócio.
“Toda pessoa precisa ter um hobby,” diz o advogado. “Você fica uma pessoa mais interessante e acaba sendo mais útil pros clientes e a família.”