Em sua carta a investidores publicada hoje, a Squadra comentou os erros de análise que cometeu na Rumo e na Hapvida.
Na Rumo, “acabamos por focar excessivamente na oportunidade de aumento dos preços de fretes ferroviários e falhamos ao negligenciar riscos que tínhamos previamente identificado e discutido internamente. Nossa avaliação era de que a reprecificação de tarifas – que de fato se materializou no exercício de 2024 – seria dominante para o valor da companhia.”
Entretanto, decisões de investimento baseadas no conceito de “valor estratégico”, tomadas nos anos de bonança, diz a carta, “acabaram se revelando com um nível de rigor técnico abaixo do apropriado, dadas as cifras de dezenas de bilhões de reais envolvidas”.
As consequências apareceram em revisões significativas de orçamentos previamente divulgados e dos desembolsos de capex para atender compromissos de benfeitorias firmados perante o Poder Público.
“Adicionalmente, a situação do grupo que exerce controle na companhia aparenta estar influenciando em sua alocação de recursos, sejam estes humanos ou financeiros – com a troca de membros da administração em meio a projetos de ciclo longo e pagamentos de dividendos dissonantes com os compromissos de investimento e alavancagem financeira da empresa.”
Segundo a Squadra, ainda que não tenha representado uma contribuição negativa importante para os fundos em termos absolutos, o resultado neste investimento se torna bem mais sofrível se comparado ao alto custo de oportunidade do Brasil. “Como seguimos tendo visão favorável sobre as perspectivas de longo prazo do ativo, não foi sem relutância que optamos por priorizar outras alternativas de alocação e reduzir a relevância da posição em nossa carteira ao longo do último ano.”
Na Hapvida, a gestora disse que cometeu dois erros centrais: subestimou o desafio trazido pela grande quantidade de aquisições e a necessidade de turnaround nas novas operações, e pagou caro pelas ações, “não deixando qualquer margem de segurança para eventuais decepções – que foram numerosas”.
“Visto de hoje, reconhecemos que o capital inicialmente investido provavelmente não será recuperado em sua totalidade. Olhando para frente, a boa notícia é que, aos preços atuais, acreditamos que o ativo oferece relação risco-retorno bastante atraente.”
Segundo a Squadra, a operação original mostrou a resiliência do modelo verticalizado, enquanto, após um ciclo de reajustes e depuração de carteiras, a rentabilidade da principal empresa adquirida voltou para patamares consideravelmente geradores de valor.
“Entendemos que a fase mais dolorosa da integração ficou para trás, permitindo que tanto a alta administração como as equipes comerciais e operacionais direcionem seus esforços ao dia a dia do negócio,” diz a carta. “Por essas razões, aliadas ao aprimoramento dos nossos acompanhamentos internos e ao maior envolvimento de diferentes membros do time de análise, aumentamos o investimento em Hapvida, encerrando o semestre com exposição superior àquela de 12 meses atrás.”
A gestora também disse que manterá o foco em companhias brasileiras. “Nunca desviamos disso, mesmo diante de tentações, especialmente nos momentos de desânimo que frequentemente afetam o investidor especializado em Brasil”.
“Não acreditamos que seremos bem-sucedidos de forma consistente investindo em Nvidia ou em negócios cuja compreensão pouco se beneficie do nosso conhecimento acumulado sobre companhias brasileiras.”
Desta vez, a Squadra disse não ter nada a declarar sobre posições vendidas.
“Prosseguimos com a obsessão por identificar modelos de negócios em decadência, contabilidades agressivas, empresários desalinhados e ações sobrevalorizadas que possam se traduzir em oportunidades de investimento short. Não foi diferente no ano de 2024; porém, desta vez, não tivemos habilidade suficiente para identificar um robusto portfólio vendido, que poderia ter ajudado o fundo em meio à performance negativa da bolsa local no período.”
Em 2024, o fundo Squadra Long-Biased (LB) caiu 20,5%, enquanto o Squadra Long-Only (LO) desvalorizou 22,3%. O benchmark da estratégia Long-Biased foi positivo em 10,9%, e o Ibovespa apresentou queda de 10,4%.
Já no primeiro semestre deste ano, os fundos Long-Biased e Long-Only valorizaram 30,7% e 28,7%, respectivamente. O benchmark do LB apreciou 6,5%, enquanto o Ibovespa subiu 15,4%.