A Spectra — que administra mais de R$ 7 bilhões em investimentos alternativos — fechou um acordo com a OutField Ventures, uma gestora focada em esportes, para ancorar seus fundos e se tornar sócia minoritária da firma.

A Spectra vai investir R$ 50 milhões nos fundos da OutField e ganhar uma participação não revelada no equity da gestora.

11838 068cd2f5 4f76 5e86 22dc 1acd64f6bbcdRenato Abissamra, o fundador da Spectra, disse ao Brazil Journal que a gestora faz com frequência acordos desse tipo — mas normalmente não entra diretamente no equity, ganhando apenas uma parcela do carry futuro.

“Desta vez fizemos diferente porque a OutField tem um negócio de consultoria e advisory de M&A que tem muita sinergia com a gestora e que não íamos conseguir capturar o valor no nosso modelo tradicional,” disse ele.

A OutField, que hoje tem R$ 130 milhões sob gestão, está levantando os recursos para três estratégias principais: entrar no equity de empresas de esportes e entretenimento, o que inclui investir em SAFs de clubes de futebol; fazer a antecipação de recebíveis para os clubes; e comprar as dívidas que os clubes têm com jogadores e técnicos (um mercado que ela estima em mais de R$ 1,5 bilhão).

A OutField já fez algumas transações nesses mercados, mas por meio de club deals. Agora, a ideia é levantar fundos para essas estratégias.

A OutField foi fundada em 2016 por Pedro Oliveira e Lucas de Paula, que largaram carreiras em grandes empresas e numa consultoria estratégica, respectivamente, para se dedicar a um tema que é a paixão dos dois. 

A companhia começou apenas como uma consultoria, ajudando clubes e empresas de esportes a aplicar boas práticas de gestão, governança e estratégia. Com o tempo, passou a assessorar transações de M&A até criar a gestora em 2020.

“Vimos que havia uma lacuna de capital institucional nesse mercado,” disse Pedro Oliveira. “É um mercado que está se profissionalizando muito, atraindo mais talentos e fornecedores qualificados, o que tem mitigado operações mal estruturadas que podem gerar problemas financeiros.”

O mercado de esportes mudou muito nos últimos 10 anos — e, segundo Pedro, vai mudar mais ainda nos próximos 10. 

“O interlocutor mudou. Hoje falamos com CFOs mais qualificados, que entendem de operações mais complexas e que estão buscando entregar valor para o acionista. Este ano, o Flamengo e o Palmeiras, por exemplo, chegaram pela primeira vez a R$ 1 bilhão de receita. É um mundo novo.”

Renato, da Spectra, disse que o mercado de esportes tem atraído muitos investidores relevantes no exterior, incluindo fundos soberanos. “É questão de tempo para esse fluxo vir para o Brasil, o que seria um caminho de saída natural para nós.”

Desde que foi fundada, a OutField Ventures já fez 12 investimentos de equity, além de algumas operações de crédito.

Pedro Oliveira 1Ela investiu, por exemplo, nas SAFs do Curitiba Futebol Clube, que está na Série B do Brasileirão, e do Maringá Futebol Clube, que está na Série D. A gestora também investiu na Final Level, de e-sports; na Tomorrow, que faz a gestão de programas de sócio-torcedores; na BePass, de reconhecimento facial para estádios de futebol; e na Hexagon Cup, uma liga europeia de padel.

Pedro disse que hoje há seis cases em análise, dos quais dois estão na fase final — uma empresa focada no mercado de ‘fan engagement’ e um novo player de conteúdo de esportes (com site, canal de TV e streaming). 

Na parte de crédito, uma das principais apostas da Outfield é o mercado de dívidas de clubes com atletas. A gestora tem comprado essas dívidas com deságios, para depois cobrar dos clubes e embolsar a diferença. 

“A CBF criou a CNRD [Câmara Nacional de Resolução de Disputas] há uns anos para regular essas dívidas, e quando um clube é sentenciado nesta câmara, se ele não paga, ele sofre várias sanções esportivas. Então pode até atrasar, mas os clubes sempre acabam pagando,” disse Pedro. “Em sete anos, não teve nenhum caso de inadimplência.”

Outra aposta no crédito é a antecipação de recebíveis para clubes de futebol. Os bancos já fazem esse tipo de operação com os clubes há décadas, mas usando como garantia apenas os recebíveis de direitos de transmissão na TV. 

A OutField tem feito essas operações usando também as receitas B2C, como os programas de sócio-torcedor, bilheteria e licenciamentos. 

“Essas receitas têm ganhado cada vez mais importância para os clubes e a curva de previsibilidade do sócio-torcedor e da bilheteria está cada vez melhor, o que permite ter uma análise de risco mais apurada,” disse ele. 

A meta dos fundadores é chegar a R$ 1 bilhão sob gestão até 2030.