A Spectra — a gestora de ativos alternativos — acaba de levantar R$ 1,7 bilhão para seu quinto fundo, cuja estratégia mescla ‘fund of funds’, a compra de cotas no mercado secundário e co-investimentos diretos em empresas.

Cerca de três quartos do capital veio de famílias brasileiras, 15% de fundos de pensão e apenas 10% de investidores internacionais.

11838 068cd2f5 4f76 5e86 22dc 1acd64f6bbcdCom a captação, a gestora de Ricardo Kanitz, Renato Abissamra e Rafael Bassani passa a ter R$ 5 bi sob gestão.

Com um modelo de negócios praticamente único no Brasil, a Spectra tem relacionamento com alguns dos principais investidores de venture capital e private equity do País: a gestora é investidor-âncora da Starboard, o maior LP da Astella Investimentos, e dona de um terço do capital investido pela Big Bets, além de ter investido 40% do capital levantado pela Bridge One em seu último fundo.

Somando todas as exposições diretas e indiretas, a Spectra tem investimentos em quase 400 empresas.

A gestora está tendo sucesso num nicho onde diversas casas internacionais tentaram e fracassaram — nomes como Capital Dynamics, Hamilton Lane, HarbourVest e 57 Stars.

Mas a concorrência local está aumentando. A XP lançou recentemente um fund of funds para investir nos mercados de PE e VC, e o BTG comprou a Signal, que nasceu da operação brasileira da Hamilton Lane. A Vinci também tem estudado criar uma estratégia de fund of funds.

O novo fundo da Spectra já alocou uma parte relevante do capital:  R$ 600 milhões, dos quais R$ 250 milhões para fundos e o restante para três coinvestimentos diretos (incluindo no ABC da Construção).

O Spectra V também encontrou oportunidades no mercado secundário, comprando, por exemplo, várias participações que a Petros detinha em fundos de private equity e infraestrutura.

Desde o first closing há um ano, quando a gestora levantou R$ 1 bi, o fundo fez commitments para fundos de gestoras de venture capital como Kaszek, Monashees, Astella, Valor Capital e Big Bets; fundos de distressed, como o Starboard; de legal claims, como Quadra e Jus; e de tech growth, como Bridge One.

Renato disse ao Brazil Journal que a Spectra decidiu reduzir a exposição em venture capital, que era de 20% no fundo anterior, para 12% agora.

“Nos últimos anos entrou muito dinheiro nessa frente, e esse pessoal tem que ‘deploy capital’. Isso vai manter esse patamar de valuations altos por um tempo ainda, conforme for entrando dinheiro no funil,” disse Renato. “Mas uma hora a música vai parar e vai faltar cadeira.”

Para ele, o mundo até agora glamouroso dos VCs tende a se consolidar.

“O mercado continua fazendo sentido, mas vai ter muito mais sangue do que teve até agora. Até agora, todo mundo ganhou dinheiro e os melhores ganharam mais. Daqui pra frente acho que não deve ser mais assim.”

O novo fundo deve ficar com uma exposição de 12% em venture capital, 25% em private equity, 5% a 10% em legal claims, 5% a 10% em mineração e de 5% a 10% em distressed equity.

O restante são os investimentos que o fundo faz no mercado secundário de cotas, o que depende das oportunidades.

“As famílias investiram muito pesado em fundos alternativos nos últimos três anos, então estamos segurando caixa para tirar proveito do que está por vir. Estamos pisando no freio, mas daqui a pouco vai chegar a hora [de investir].”

Segundo um investidor, os fundos da Spectra acumulam rentabilidade média acima do objetivo de 25% ao ano mais inflação — já líquidos de fees.

O fundo 1 já devolveu um pouco mais de 100% do capital aos investidores. O fundo 2, 150%. O fundo 3, 50%, e o 4, cerca de 12%.