Apesar da alta forte do setor de energia, a Shell – que subiu “apenas” 30% este ano – continua uma “pechincha”, segundo a Barron’s.
Dona de alguns dos melhores ativos do mercado – como o maior negócio de gás natural liquefeito (GNL) e a maior rede de postos do mundo – a Shell negocia a apenas 6 vezes o lucro para 2022. A Exxon Mobil sai a 9x, a Chevron, a quase 11x.
O artigo discute o que a Shell já está fazendo e ainda poderia fazer para fechar o gap de valuation em relação às concorrentes.
Uma primeira medida seria ‘splitar’ a empresa em dois negócios – um de combustíveis fósseis, outro de energia renovável – como quer Dan Loeb, o investidor ativista da Third Point.
Mas a administração da empresa tem sido resistente.
Loeb escreveu em uma carta que o “portfólio de negócios díspares da Shell, que vão desde petróleo em águas profundas até parques eólicos, postos de gasolina e fábricas de produtos químicos, é confuso e incontrolável.”
A Mill Pond Capital, uma gestora de Boston, avalia que o negócio de GNL da Shell mais os postos podem valer juntos US$ 170 bilhões, ou a maior parte do valor de mercado da Shell, que hoje vale US$ 207 bilhões na Bolsa – apesar de esses negócios produzirem apenas 35% do fluxo de caixa da empresa.
A Mill Pond, que está ‘comprada’ na Shell, faz uma análise de ‘soma das partes’ que avalia a empresa em US$ 80 por ação – o papel está hoje ao redor de US$ 55.
A Shell também poderia pagar um dividendo muito maior. A empresa reduziu seus dividendos em 65% em 2020, durante a pandemia — enquanto Exxon e a Chevron mantiveram os pagamentos estáveis num primeiro momento, e depois aumentaram.
O dividend yield da Shell é de 3,6%; o da Exxon está em 4,1%, e o da Chevron, em 3,4%.
A Shell mantém pagamento de dividendos conservador – 20% do lucro – com base nos lucros projetados para 2022, enquanto as outras duas empresas estão em 35%.
“A Shell deveria restabelecer o dividendo pré-Covid”, Dan Farb, o gestor da Mill Pond, disse à Barron’s. “Isso ajudaria muito a restaurar a credibilidade da administração com os investidores e reprecificar as ações.”
Para Martijn Rats, um analista do Morgan Stanley, a Shell pode pagar um dividendo mais alto: a empresa tem um fluxo de caixa operacional de 30% a 40% maior que o da Chevron, mas paga anualmente US$ 7,5 bi em dividendos, enquanto a Chevron distribui US$ 11 bi.
A Shell também aumentou sua recompra de ações. Ela planeja recomprar US$ 8,5 bi no primeiro trimestre, e até US$ 15 bi este ano. Apesar de a recompra ser considerada um bom uso do dinheiro, por conta do valuation atual os investidores prefeririam ver um dividendo maior, diz a Barron’s.
A Shell produz cerca de três milhões de barris de óleo por dia, um volume no mesmo patamar da Chevron. No primeiro tri, o lucro de US$ 9,1 bi da Shell superou o da Exxon e da Chevron.
A Barron’s disse que a Shell tomou algumas medidas bem recebidas pelos investidores, como unificar suas duas classes de ações e livrar-se de sua velha estrutura societária anglo-holandesa. A empresa escolheu ter sua sede no Reino Unido, que é menos hostil ao setor de energia do que grande parte do continente, segundo a revista.
No gás, a Shell é hoje a maior produtora mundial de GNL, com 10% da produção. “O GNL é o lugar para se estar pós-Rússia”, Oswald Clint, um analista da Bernstein que tem preço-alvo de US$ 76 e recomendação outperform para a Shell, disse à Barron’s.
A perspectiva para o GNL é muito favorável porque a Europa quer reduzir sua dependência do gás russo e a demanda asiática pelo produto, principalmente da China, deverá aumentar nas próximas décadas.
O negócio de varejo da Shell – com mais de 46.000 postos de gasolina e 12.000 lojas de conveniência – pode valer US$ 40 bilhões com base em avaliações da Alimentation Couche-Tard do Canadá. O analista da Bernstein destacou o valor desse negócio de varejo, argumentando que a plataforma da Shell oferece “enorme potencial de crescimento”.
Segundo a revista, a ação da Shell merece um desconto em relação à Chevron e à Exxon porque a empresa está sediada na Europa e enfrenta maior pressão de ativistas climáticos para reduzir seus negócios de petróleo e gás.
A empresa tem um compromisso maior com uma agenda verde do que seus pares dos EUA, segundo a Barron’s, e suas declarações frequentes sobre sua participação na “transição energética” inquietaram investidores que querem exposição ao petróleo e gás e acreditam que os combustíveis fósseis desempenharão um papel crucial por décadas.
“Há poucas razões pelas quais a Shell não pode adotar uma abordagem mais orientada para os acionistas e ao mesmo ser empresa ambientalmente responsável. Um dividendo mais alto seria um bom começo,” disse a Barron’s.