A SEC quer impor regras para limitar o uso de inteligência artificial pelas corretoras nos EUA.
O objetivo da agência reguladora é evitar que as plataformas induzam o comportamento dos investidores e fechar as portas para eventuais conflitos de interesses.
As propostas — que ficaram sob consulta pública por dois meses e devem ser votadas nos próximos dias — estão recebendo críticas duras das corretoras, que dizem que as regras são impraticáveis e vão desincentivar o uso de novas tecnologias, penalizando os clientes.
A nova regulamentação faz parte das ações sugeridas pela SEC depois de uma extensa análise sobre a febre dos meme stocks, em 2021.
Para os reguladores, as plataformas ‘gameficaram’ a compra e a venda de ações, levando os traders a fazerem apostas cada vez mais arriscadas e a atuar com comportamento de manada.
Os recursos interativos teriam incentivado as transações, beneficiando os intermediários.
Pelas medidas sugeridas, as firmas de investimento terão que analisar se existe algum conflito de interesse no uso de predictive data analytics (PDA) ou de IA e, se houver, terão que eliminá-lo.
Um exemplo seria a calibragem de um algoritmo para que a compra ou a venda aumente os lucros da corretora.
As empresas financeiras vêm adotando cada vez mais as ferramentas de IA para sugerir investimentos. Com a regulação, a SEC quer evitar que os interesses das corretoras e dos bancos se sobreponham aos dos clientes.
As empresas financeiras, entretanto, criticam o excesso de burocracia que seria criada. Dizem que muitas situações já são previstas pelas normas em vigor e que as novas diretrizes são muito vagas e difíceis de serem cumpridas, o que promete ser um desafio para o compliance.
As regras apresentadas vão “restringir severamente o uso de tecnologia pelas firmas de serviços financeiros,” disse Vladimir Tenev, o CEO da Robinhood.
“A regra é tão ampla que vai demandar uma custosa revisão manual de praticamente todos os aplicativos, até mesmo de coisas básicas como a escolha de cores do design,” escreveu Tenev no X (ex-Twitter).
Para o executivo da Robinhood, a SEC defende um retrocesso, trazendo de volta os dias em que os traders tinham que falar com seus corretores pelo telefone ou pessoalmente.
Em uma reportagem recente, a Barron’s diz que as regras vêm recebendo críticas amplas de diferentes segmentos da indústria financeira.
Executivos do setor disseram que da maneira como foram redigidas, as regras poderão ser aplicadas para o uso de qualquer tipo de tecnologia que seja um pouco mais sofisticada do que uma calculadora.
Para eles, as regras vão impedir que os consumidores tenham acesso a ferramentas que aprimorem a experiência dos clientes e que permitam melhores recomendações de investimentos.
As propostas vão criar um novo paradigma para as corretoras e para os consultores de investimentos, diz um relatório publicado pelo escritório de advocacia Dechert.
“As firmas terão que desenvolver uma governança ampla, sistemas de teste e procedimentos detalhados para essas tecnologias,” escreveram os advogados. “Corretores e consultores terão que avaliar se as tecnologias causam conflitos com a regras e se esses conflitos são significativos.”
A Schwab disse numa carta que a proposta estabelece uma “injustificada” e “impraticável” presunção de que toda tecnologia, existente ou não, “pode ter algum conflito de interesse e então não pode ser usada a menos que uma empresa consiga fazer uma avaliação e demonstração de que não existem conflitos ou que eles tenham sido eliminados.
Mas para Gary Gensler, o chairman da SEC, é “quase certo” que a inteligência artificial vai causar uma crise financeira na próxima década, caso medidas regulatórias não sejam colocadas em prática logo.