O Calpers, o grande fundo de pensão da Califórnia e o maior dos Estados Unidos, não vê outra saída que não aumentar sua alavancagem — no sinal mais recente da dificuldade dos fundos de pensão em financiar as aposentadorias num mundo de juro zero.
Enquanto seu chief investment officer anterior focava em proteger o principal, o novo CIO, que assumiu o cargo há pouco mais de um ano, está pronto para aumentar o risco do fundo por meio swaps, derivativos de Treasuries e ações e aluguel de títulos. Outra parte da estratégia: aumentar a exposição em private equity e no mercado de dívidas.
O conselho do Calpers já autorizou o CIO, Ben Meng, a trabalhar com uma alavancagem máxima de 20% do valor do fundo, que administra US$ 400 bilhões, mas Meng disse que não vai usar o limite, segundo o Financial Times.
Este é mais um caso em que a necessidade está fazendo o sapo pular — com consequências que só serão conhecidas ao longo do tempo. Hoje, os ativos da Calpers representam apenas 71% do que seria necessário para arcar com as aposentadorias dos 1,9 milhão de policiais, bombeiros e outros servidores públicos beneficiários do fundo.
Para cumprir com as obrigações, o Calpers precisaria entregar um retorno anual médio de 7%. Com a carteira atual, o fundo estima um retorno de 6% ao ano — levando o Estado de Califórnia a ter que compensar o déficit, ou exigindo uma maior contribuição dos funcionários ou onerando o contribuinte.
“Dado o ambiente atual de juro baixo e baixo crescimento, há apenas algumas poucas classes de ativo com um retorno de longo prazo esperado que ultrapasse os 7%. Os ativos privados [não listados] claramente se destacam,” Meng disse ao FT.
Para ele, “a alavancagem vai aumentar a volatilidade dos retornos mas o horizonte de longo prazo do Calpers permite que toleremos isso.”
O target de alocação em private equity, hoje em 8%, deve subir “alguns pontos percentuais,” e o fundo quer construir uma pequena posição em crédito privado nos próximos três anos, Meng disse à Bloomberg.
As decisões do Calpers podem ter implicações relevantes para toda a indústria. Como maior fundo de pensão dos EUA, ele é acompanhado de perto por todos os gestores e serve como uma espécie de benchmark.
Nos últimos nove meses até março, a carteira da Calpers acumulava uma queda de 4,1%.
Desde que assumiu, Meng já desinvestiu US$ 64 bilhões de mais de 30 gestores — incluindo a Universa, de Nassim Taleb; agora, 80% do Calpers é gerido in-house, segundo o FT.
A carreira de Meng no Calpers é cercada de controvérsias. Alguns congressistas americanos o vêem com suspeita por ter trabalhado para uma agência do governo chinês, e já pediram sua demissão ao governador da Califórnia. (Meng é um cidadão americano de origem chinesa). Além disso, ele perdeu dinheiro para o fundo este ano quando se desfez de hedges de ‘tail risk’ (eventos altamente improváveis) logo antes do crash de março.
Meng tentou se justificar, mas foi eviscerado por Taleb, que questionou sua competência e honestidade e estimou que a estratégia de “mitigação de risco alternativa” do CIO já causou um prejuízo de US$ 19 bilhões ao Calpers desde que ele assumiu.
Às vezes, o problema não é só o juro zero.